Pandemia pode vir a criar mais 176 milhões de pobres

Relator especial para a ONU pediu aos representantes dos vários países para que reforcem os planos de ajuda aos grupos mais vulneráveis “com base em princípios de direitos humanos”. Governos já orçaram cerca de 496 mil milhões para protecção social na actual crise.

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Reuters/RICARDO MORAES

Olivier De Schutter, um especialista em pobreza das Nações Unidas alertou hoje que o número global de pobres pode aumentar em 176 milhões devido ao impacto da covid-19, referindo que as medidas de protecção social tomadas pelos Governos são insuficientes.

Os governos orçaram no total cerca de 589 mil milhões de dólares (496 mil milhões de euros) para protecção social na actual crise, o que representa cerca de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, mas a análise do relator, divulgada esta sexta-feira, considera que essas iniciativas não vão impedir o aumento da pobreza.

Esse aumento pode chegar a 176 milhões de pessoas, se a linha de pobreza for considerada para rendimentos abaixo de 3,2 dólares (2,7 euros) por dia, avisou Olivier De Schutter, um académico jurídico belga nomeado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU como relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos.

De Schutter também indicou que muitas comunidades necessitadas podem estar a ser excluídas dos planos de protecção, devido a pormenores como o facto de muitos programas solicitarem que os beneficiários se registem pela Internet, meio a que muitas famílias de baixos rendimentos não têm acesso.

Outros programas colocam “condições impossíveis de satisfazer” por pessoas em condições de trabalho precárias ou sem residência permanente, como é o caso de muitos trabalhadores migrantes ou do sector informal (61% da força de trabalho mundial), denuncia o relator belga.

“As piores consequências da crise sobre a pobreza ainda estão por vir”, previne o relator das Nações Unidas, que também lamenta que muitos dos programas de protecção social já estejam a ser abandonados ou não possam ser renovados caso o partido político dos governos mude em futuras eleições.

Face à situação e nas vésperas da Assembleia-geral das Nações Unidas, que reunirá vários líderes mundiais em teleconferência, o relator pediu aos representantes dos vários países para que reforcem os planos de ajuda aos grupos mais vulneráveis “com base em princípios de direitos humanos”.

O relator considerou ainda que a desaceleração económica resultante da pandemia não tem precedentes em tempos de paz desde a Grande Depressão da década de 1930.

“As famílias pobres já esgotaram todas as reservas que possuíam e venderam os seus activos”, disse, sublinhando que “os piores impactos da crise sobre a pobreza ainda estão por vir”.

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