União Europeia pondera hipótese de abrir processo judicial contra Londres

Decisão será tomada depois de novas rondas negociais, após Boris Johnson ter decidido não cumprir parte do Acordo de Saída do Reino Unido da UE, o que pode configura uma infracção ao direito internacional.

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Boris Johnson Reuters

O Reino Unido e a União Europeia realizam nesta quinta-feira uma reunião de emergência devido ao plano do primeiro-ministro, Boris Johnson, de não cumprir algumas disposições do acordo do “Brexit”, negociado e ratificado com Bruxelas. Em pano de fundo Bruxelas está a averiguar qual é a possibilidade de iniciar um processo contra o Governo de Londres por quebra de acordo.

O vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, reúne-se em Londres com Michael Gove, número dois do Governo britânico, havendo encontros na capital britânica também entre o negociador da UE, Michel Barnier, e o negociador britânico, David Frost.

A decisão de Londres assume a infracção do direito internacional, particularmente em relação às disposições acordadas com os 27 Estados-membros sobre o sistema aduaneiro aplicado às trocas comerciais com a Irlanda do Norte, os mecanismos de reversão dessas mesmas disposições e os termos dos subsídios estatais às empresas.

A decisão foi considerada uma forma de pressão de Johnson, para forçar Bruxelas a um acordo comercial mais favorável.

Porém, segundo as fontes da Reuters, se Bruxelas não ficar satisfeita com o que Londres tem para dizer, pode tentar invocar os termos do acordo de saída para iniciar uma acção legal contra o Reino Unido, apesar de o caso não dever estar concluído antes da data em que se rompem definitivamente os laços entre as duas partes, a 31 de Dezembro.

“O mecanismo jurídico para resolver uma disputa entre as duas partes, à luz do acordo de saída, está aí”, disse à Reuters um diplomata europeu envolvido no processo do “Brexit”. Outras duas fontes oficiais disseram que a Comissão vai analisar a proposta britânica antes de haver uma decisão final sobre um processo litigioso. 

“Estou muito preocupada com os anúncios do Governo britânico sobre as suas intenções de não cumprir o acordo de saída. Viola o direito internacional e compromete a confiança”, escreveu a chefe do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, no Twitter na quarta-feira.

Num comunicado emitido esta quinta-feira, a presidente do grupo de monitorização da implementação do acordo de saída no Parlamento Europeu, Danuta Hübner, referiu-se especificamente aos termos do Protocolo para a Irlanda (que é um dos anexos do acordo de saída) para notar que a legislação proposta pelo primeiro-ministro britânico inviabiliza dois pontos essenciais desse tratado.

Primeiro, o protocolo determina explicitamente que enquanto estiver em vigor, tanto o Reino Unido como a União Europeia têm de respeitar e aplicar as normas nele definidas. Segundo, o cumprimento do protocolo apenas pode cessar através do consentimento das autoridades da Irlanda do Norte, que terão o seu primeiro voto sobre a matéria em 2024, assinalou.

Recordando que está previsto que a aplicação do Protocolo da Irlanda se inicie antes do final do período de transição, a eurodeputada renova o apelo ao Governo de Londres para retirar [de discussão] qualquer medida que possa comprometer a correcta implementação do acordo de saída.

Danuta Hübner chama ainda a atenção para o extremo cinismo do primeiro-ministro, Boris Johnson, de usar a proposta de lei para aumentar a pressão sobre as negociações em curso” para a assinatura de um acordo de parceria económica e política, e avisa que os legisladores europeus não irão tolerar este tipo de manobras. “Estamos envolvidos na negociação do mais importante acordo para o nosso relacionamento futuro. A iniciativa do Governo britânico abalou seriamente a nossa confiança nos nossos aliados”, revelou.

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