As nossas pernas são o “segundo coração”?

Permanecer em pé parado por longos períodos inibe drasticamente a função da “bomba gemelar”, aumentando a pressão nas veias e capilares.

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"A força da “bomba gemelar” depende do grau de desenvolvimento dos músculos" FRANCISCO ROMAO PEREIRA

A circulação sanguínea, através do coração e da pressão arterial, permite a irrigação do corpo humano com sangue arterial. O retorno do sangue venoso, de volta ao coração, é controlado por vários mecanismos. A gravidade, a distensibilidade das veias, a contracção abdominal (por exemplo quando tossimos ou rimos) são factores que diminuem o retorno venoso ao coração, quando nos encontramos em pé, parados.

As nossas pernas, quando em movimento, contraem os músculos gémeos e, através desta “bomba gemelar”, comprimem as veias profundas empurrando o sangue no sentido do coração. Esta direcção do fluxo de sangue venoso é assegurada pela existência de válvulas nas veias, que obrigam o sangue a fluir nesse sentido. Dos factores que asseguram o retorno venoso, a “bomba gemelar” (muscular) é sem dúvida o mais importante, e daí ser chamado o “segundo coração”.

Assim, podemos depreender que algum problema que surja com os músculos das pernas ou com as válvulas das veias vai prejudicar o retorno venoso. A força da “bomba gemelar” depende do grau de desenvolvimento dos músculos, que estão mais desenvolvidos no homem do que na mulher, e no atleta do que no sedentário.

Permanecer em pé parado por longos períodos inibe drasticamente a função da “bomba gemelar”, aumentando a pressão nas veias e capilares, com saída de água para fora dos vasos e aparecimento de edema dos pés e pernas (vulgo “retenção de líquidos”). A acumulação de gordura nas pernas (mais comum nas mulheres) também prejudica o funcionamento da “bomba gemelar”.

Há factores predisponentes que incluem a idade, hereditariedade, género, gravidez, sedentarismo e obesidade, que provocam fragilidade das veias e mau funcionamento da válvulas (prevalência de 25% na população adulta), interferindo com a “bomba gemelar”.

Estas situações levam ao aparecimento de sintomas – sensação de peso ou queimadura, dor e inchaço das pernas, prurido, cãibras –, pelo que é aconselhável a consulta Angiologia/Cirurgia Vascular para que o diagnóstico seja precoce, não surjam complicações (trombose, embolia, flebite ou úlcera de perna), e seja proporcionada ao doente uma melhoria da sua qualidade de vida.

Além da observação clínica, o cirurgião vascular tem à sua disposição o ecodoppler venoso que detecta facilmente a insuficiência venosa dos membros inferiores.

As medidas higieno-dietéticas, estilo de vida saudável, controlo do peso, exercício físico, controlo postural, fisioterapia, bem como medicamentos venotrópicos e meias de contenção elástica são elementos cruciais para manter o bom funcionamento do nosso “segundo coração”.

A situação presente de pandemia por covid-19, e inevitável confinamento, pode desencadear ou agravar estes problemas vasculares, mas não deve atrasar a ida do doente ao médico, já que nas unidades de saúde estão asseguradas as medidas de seguranças necessárias para evitar o contágio.

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