Reciclagem de pilhas e baterias continua aquém das metas, em Portugal

Ambientalistas da Zero defendem criação de um valor de depósito, para estimular a deposição correcta, algo que o sector diz não ser fácil de pôr em prática

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Há milhares de pontos de recolha de pilhas em todo o país Francisco Romao Pereira

O Eurostat estima que em Portugal, a recolha e envio para reciclagem de pilhas e baterias portáteis de uso doméstico tenha ficado pelos 31% em 2018, bem longe da meta de 45% do total colocado no mercado, e mais longe ainda dos próximos objectivos da União Europeia, que pretende, por exemplo, que 75% das pilhas de níquel-cádmio venham a ser recicladas. O país tem um longo caminho a percorrer, e, esta quarta-feira, no Dia Europeu dedicado à reciclagem destes produtos, um dos operadores responsáveis pelo seu correcto encaminhamento, o Electrão, deu conta de que, durante a pandemia, até houve uma quebra nas recolhas. 

O problema é óbvio. Em média, cada pilha demora entre 500 a mil anos a decompor-se se não for encaminhada para reciclagem, e lá dentro há substâncias nocivas, algumas delas cancerígenas como o cádmio e o chumbo, que, quando abandonados indiscriminadamente, podem ter reflexos graves no ambiente e na saúde. Mas, tal como acontece como outros resíduos, neste fluxo específico, o das pilhas e baterias, a multiplicação de pontos de recolha por parte dos três operadores licenciados para gerir o seu encaminhamento para reciclagem não tem sido suficiente para garantir os níveis de separação inscritos nas metas nacionais. 

Zero propõe alternativa

Em 2017, 39,5% destes materiais tinham sido recolhidos, segundo o último relatório disponibilizado pela Agência Portuguesa do Ambiente. No ano seguinte, se se confirmarem as estimativas adiantadas em Julho passado pelo Eurostat, o cenário piorou, face à meta de 45%, que fora estabelecida para o ano anterior. A associação ambientalista Zero defende que o país deveria instituir um valor de depósito para as pilhas e baterias - e até para todos os produtos de electrónica, considera Rui Berkemeier - de modo a que os consumidores fossem estimulados a recuperar esse valor, entregando estes resíduos no sítio certo. 

Mesmo não discordando das virtudes deste tipo de abordagem, que até tem vindo a ser estudada, Pedro Nazareth, director-geral do Electrão, encontra nela vários problemas. Explica que desenhar uma solução dessas para produtos que não têm um consumo imediato, e podem ficar meses ou anos em nossas casas, implicaria “capturar” milhões de euros da economia (e dos consumidores, no caso), para além dos custos envolvidos no desenvolvimento de uma logística (máquinas para retoma) totalmente nova, no país. Berkemeier percebe o argumento, mas acredita que ele só seria um problema num momento inicial, insistindo nas vantagens óbvias de comprometer o consumidor com o encaminhamento para a reciclagem. 

O país está a preparar-se para instituir o depósito nas garrafas de plástico (PET), e a verdade é que, assume Pedro Nazareth, as máquinas que estão a ser usadas num projecto-piloto, que decorre em vários pontos do país, estão a ser um sucesso. Nesta fase as garrafas são trocadas por um incentivo de alguns cêntimos, pois não há ainda um valor de depósito, mas a perspectiva é de que, quando este for criado, o ritmo de utilização acabe por aumentar, com benefícios óbvios para todo o sistema. Desde logo porque as garrafas recolhidas, isentas de outras impurezas, serão mais facilmente recicladas.

No caso das pilhas, boa parte das que não não são devidamente colocadas nos pontos de recolha acaba no meio do lixo doméstico, e parte delas ainda é recuperada nos sistemas de tratamento mecânico de algumas empresas que gerem resíduos urbanos. Há alguns anos viam-se também pequenos depósitos para pilhas e baterias acoplados aos ecopontos, mas, admite Pedro Nazareth, esta colaboração foi perdendo força, ao longo do tempo. Questionado pelo PÚBLICO sobre a eventual vantagem de associar a entrega de pilhas para reciclagem aos novos esquemas de recolha porta-a-porta de resíduos urbanos que estão a ganhar terreno nas zonas urbanas, o director-geral do Electrão admitiu que há ainda “muitas sinergias a serem exploradas”, para se atingir um melhor resultado.

A ERP - Portugal, outra das entidades licenciadas para recolha e encaminhamento deste tipo de resíduos, assinalou esta quarta-feira, também, a efeméride europeia, e Rosa Monforte, Directora-Geral desta organização, lembra que, para além dos pontos de recolha montados pelas entidades gestoras, “qualquer estabelecimento que vende pilhas tem a obrigação legal de aceitar pilhas usadas a título gratuito, mesmo que não compre novas. Isto significa que optarmos pelo comportamento correcto e entregá-las de forma a garantir a sua reciclagem, só depende de cada um de nós, há milhares de locais onde se podem entregar. É fundamental que todos os cidadãos percebam o que está em jogo e a importância das suas acções e que contribuam para a preservação do planeta.”

 
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