O regresso da “geringonça”

Quando muitos julgavam que a “geringonça” estava enterrada – um desejo mal disfarçado do PS quando pensou que estaria à beira da maioria absoluta –, eis que tudo volta à casa de partida.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM
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Acabou o minifolhetim da eventual crise política. Não foi um folhetim que tivesse causado grande comoção no país, bastante mais preocupado a discutir a realização da Festa do Avante! do que a perder muito tempo com a ameaça de demissão do primeiro-ministro, caso o seu Orçamento do Estado não vier a ser aprovado.

No discurso de encerramento da Festa do Avante! Jerónimo de Sousa veio dizer que o PCP está disponível para voltar ao lugar onde foi determinante na legislatura passada, viabilizando Orçamentos do Estado. A sua crítica àqueles que acham que o PCP não faz parte da “solução” foi clara (o PCP “conta como nenhum outro”); como claras foram as condições colocadas ao Governo para um futuro “ámen” ao Orçamento. Quando muitos julgavam que a “geringonça” estava enterrada – um desejo mal disfarçado do PS quando pensou que estaria à beira da maioria absoluta –, eis que tudo volta à casa de partida.

Marcelo pode suspirar de alívio depois do resultado da Festa do Avante! – que tanto criticou e aonde desta vez decidiu não ir passear, ao contrário do que fez há cinco anos, quando estava em pré-campanha para a primeira eleição presidencial. Percebe-se: quem o Presidente agora precisa de conquistar é a direita amuada com um dos seus e não a esquerda que já está, parte dela, tanto quanto possível, conquistada por um candidato da direita.

O caderno de encargos do PCP está clarificado e é duro: aumento do salário mínimo para 850 euros, criação de suplemento remuneratório para trabalhadores dos serviços essenciais; compensação remuneratória e protecção social dos trabalhadores por turnos; alargamento do acesso ao subsídio de desemprego. Jerónimo quer que o Orçamento venha “acudir a quem perdeu rendimentos com apoios extraordinários para garantir condições de vida”, apoiar as micro e pequenas empresas, “dotar o SNS de todos os meios que garantam a prestação de cuidados de saúde”.

Foi um erro a estratégia de descolagem da “geringonça” que o PS empreendeu quando pensou que podia ter uma maioria absoluta ou ziguezaguear com uma “ampla maioria”. Regressar à casa de partida é aquilo que protege Costa e evitará que, tal como aconteceu com o seu camarada António Guterres, venha a cair num “pântano”.

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