A “nova” escola dos nossos filhos

As escolas tentam preparar-se da melhor maneira para o início do ano letivo, mas não está a ser fácil preparar-se contra um inimigo invisível.

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LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Neste ano letivo a escola mudou. Não é a mesma que conhecíamos há décadas. É uma nova escola onde nunca sonhamos deixar os nossos filhos. A pandemia trouxe uma realidade que ninguém esperava viver, uma realidade cheia de receios e incertezas. Qualquer saída à rua significa o perigo no regresso. A ida à escola não vai ser diferente.

As escolas tentam preparar-se da melhor maneira para o início do ano letivo, mas não está a ser fácil preparar-se contra um inimigo invisível. Os receios são muitos, tanto por parte dos profissionais, como dos encarregados de educação e, até, dos próprios alunos. A incerteza de que a preparação do novo ano letivo funcionará apenas no papel está presente na mente de todos.

A azafama nas escolas sente-se à entrada, os assistentes operacionais recortam setas para colar no chão, nas salas de aulas joga-se Tetris com as mesas para tentar assegurar a distância pretendida, nos refeitórios marcam-se lugares a ocupar e a não ocupar, muda-se a mobília de lugar vezes sem conta e os alunos ainda nem sequer chegaram para lhe dar uso. Professores a olhar para qualquer espaço escolar como se para o vazio não significa distração, mas preocupação com uma qualquer medida que ali têm de aplicar, mas depois de medições e reviravoltas não se consegue ir além do “possível”.

Quando os alunos entrarem pela porta principal da escola tudo tem de estar preparado. Se possível, todas as medidas têm de estar presentes no novo dia-a-dia escolar. O isolamento de grupos, as brincadeiras em espaços limitados com colegas predefinidos, os intervalos reduzidos, as refeições comidas à pressa para que, depois de desinfetado, outro ocupe o seu lugar, os novos acessórios da moda sempre presentes, o esfregar de mão constante envoltas em sabão ou álcool… As novas rotinas tão anormais como impensáveis noutros inícios de ano.

A escola vai ser muito diferente do que era. Este ano letivo vai deixar marcas numa geração inteira, vai deixar recordações que ninguém quer ter. As nossas crianças e jovens ainda não iniciaram o novo ano letivo, mas começam a ter um vislumbre do que poderá ser esta escola que nenhum quer frequentar.

Dia 17 de setembro, todos estarão perante uma realidade que desconhecem. Preparados, ou não, todos terão de enfrentar a realidade para a qual não foram preparados. Será nessa preparação que os professores terão um papel fundamental, mas também ninguém se deu ao trabalho de os preparar a preparar. Exigiremos dos professores aquilo que não exigimos de nós ou de quem tem o dever. Sejamos francos, ninguém está preparado para este ano letivo. Tudo o que possa estar escrito em papel ou anunciado por “especialistas”, não passa de “achismos” ou no máximo de esperanças.

Esta não é a escola que desejamos para os nossos filhos. Pelo menos aqueles que, ao telefone, não parecem ter outra preocupação se não saber se a cantina vai servir almoços às crianças… Tenham o melhor ano letivo “possível” face às circunstâncias em que, neste momento, vivemos.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

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