A pele, a hidratação e o papel dos cosméticos

A água desempenha um papel importantíssimo no nosso corpo e, a pele não é exceção. Assim, é muito importante compreender a importância da hidratação. Um grupo de investigadoras em ciências farmacêuticas explica como funciona o processo ao nível da pele e como são compostos os produtos destinados a mantê-la hidratada.

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Karelys Ruiz/Unsplash

A pele atua como uma barreira contra influências ambientais indesejadas e protege o corpo contra a perda de água. A pele é composta pela epiderme, derme e por tecido subcutâneo, hipoderme. A camada mais superficial da epiderme é designada por estrato córneo (EC) e é constituída por uma película hidrolipídica, muito importante para o bom funcionamento da pele.

Um dos principais objetivos da aplicação de cosméticos é a modificação da capacidade do EC para conservar a água de modo a manter a pele hidratada, flexível e macia. As queixas subjetivas referidas como alterações de hidratação, normalmente a nível da epiderme, constituem a razão mais frequente da procura e utilização de cosméticos. Quando a barreira da pele é comprometida ocorre a perda de água e de lípidos cutâneos, e consequentemente a pele fica desidratada.

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Pele normal, pele com barreira cutânea danificada e pele com hidratantes Inês Marques Ribeiro

Como actuam os cosméticos hidratantes?

Os cosméticos hidratantes melhoram esta condição por serem constituídos por ingredientes com propriedades oclusivas, humectantes e emolientes.

Os ingredientes oclusivos formam uma barreira à superfície da pele, bloqueando e prevenindo a perda de água através da pele. Vaselina, lanolina, parafina são exemplos de ingredientes oclusivos. Por outro lado, os humectantes são ingredientes capazes de reter a água na superfície da pele. A glicerina e a ureia são bons exemplos de humectantes.

Os ingredientes responsáveis pela emoliência são geralmente óleos e manteigas que contêm ácidos gordos e que, quando aplicados na pele, têm a capacidade de deixar a pele macia e flexível, pois repõem a perda de lípidos cutâneos.

A evolução da aplicação tópica de cremes hidratantes tem passado pela escolha de lípidos como ceramidas, colesterol e ácidos gordos com capacidade de fortalecer a função barreira do EC.

No desenvolvimento de um cosmético hidratante, o desafio é a seleção e a definição da concentração destes ingredientes, pois as propriedades das formulações como a textura, a consistência e a oleosidade são fortemente dependentes dessas opções. De uma forma geral, emulsões e cremes (emulsões mais consistentes) são as formas galénicas mais comuns de hidratantes. Estas formulações são constituídas por uma fase aquosa e uma fase oleosa em diferentes proporções e concentrações.

Resumindo, o objetivo final de um cosmético hidratante é reparar a barreira epidérmica, aumentando o teor de água, reduzindo a perda transepidérmica de água e aumentando a capacidade dos lípidos em atrair, reter e redistribuir a água na pele.

Como avaliar a capacidade hidratante de um cosmético?

Nos últimos anos, numerosos trabalhos científicos têm sido desenvolvidos com vista a quantificar e objectivar a natureza da eficácia de cosméticos. Surgiram diversas novas tecnologias que permitem estabelecer metodologias in vivo e in vitro. Estas medem parâmetros físicos da superfície da pele que podem estar relacionados com o conteúdo de água da epiderme e do EC. O avanço tecnológico veio permitir determinar com mais precisão quais são os melhores ingredientes e produtos a serem usados nos hidratantes e seus efeitos.

Por exemplo, recorrendo a um equipamento que avalia a topografia cutânea (o PRIMOS, da alemã GFMessetechnik) foi possível analisar a rugosidade da superfície da pele, antes e depois da aplicação diária de um creme hidratante durante 21 dias, evidenciando a diminuição da rugosidade superficial da epiderme dos voluntários.

Comparação da rugosidade da superfície da pele entre os valores basais
E após a aplicação de um hidratante durante 21 dias
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Comparação da rugosidade da superfície da pele entre os valores basais

Bibliografia:
Carneiro R., et al., Eur J Lipid Sci Technol. 2011; 113:961-966.
Ribeiro H.M., et al., Eur J Lipid Sci Technol. 2013; 115:330-336.
Almeida C., et al., Cosmetics 2019; 6(3),56.

* As autoras escrevem segundo as normas do Novo Acordo Ortográfico

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