Mercado petrolífero preso numa recuperação estagnada

Não é esperada “qualquer desaceleração adicional grave nos próximos meses”, mas também não é esperado “um crescimento robusto em breve”, indica a Agência Internacional de Energia.

Foto
Reuters/Ernest Scheyder

A economia global não está, provavelmente, a caminhar para qualquer grande abrandamento devido à covid-19, mas está a haver acumulação de armazenamento e incerteza sobre a procura de petróleo por parte da China, disse o director da Agência Internacional de Energia (AIE) para os mercados de energia e segurança, Keisuke Sadamori, à Reuters.

Keisuke Sadamori disse haver “uma enorme incerteza”. Não é esperada “qualquer desaceleração adicional grave nos próximos meses”, mas também não é esperado “um crescimento robusto em breve”. Assim, segundo o responsável, “a procura é mais estável em comparação com há três meses”.

Os preços do petróleo bruto afundaram na Primavera para mínimos históricos à medida que os confinamentos resultantes da pandemia diminuíram a procura. Entretanto reduziram as perdas, mas os valores permaneceram presos perto dos 40 dólares por barril.

A AIE reduziu a sua previsão da procura de petróleo para 2020 no seu relatório mensal de 13 de Agosto, avisando que a redução das viagens aéreas reduziria a procura global de petróleo em 8,1 milhões de barris por dia. Foi a primeira vez em três meses que a agência, com sede em Paris, baixou as suas perspectivas para o ano. 

Com o Brent – petróleo bruto do Mar do Norte que serve de referência para a economia portuguesa – a registar a sua primeira perda semanal desde Junho na passada sexta-feira, os mercados têm crescido nervosos em relação à procura, com fracas margens de refinação e um lento crescimento económico, reduzindo os incentivos para retirar petróleo bruto e produtos de stocks abundantes.

“Não estamos a ver uma forte recolha na actividade de refinação” disse Sadamori, apontando como principal problema o combustível de aviação que teve uma redução na procura devido à grande redução de tráfego aéreo mundial.

A China, o maior importador mundial de petróleo, saiu do confinamento mais cedo do que outras grandes economias e fez importações de petróleo recordes nos últimos meses, tornando-se a “esperança” no meio da estagnação. No entanto, Keisuke Sadamori relembra as tensões geopolíticas actuais e as dúvidas que elas trazem consigo quanto à sustentabilidade e durabilidade desses investimentos por parte da China. 

“Há tantas incertezas no que diz respeito à economia chinesa e à sua relação com os principais países industrializados, com os EUA e hoje em dia, até mesmo com a Europa. Não é uma situação tão optimista - que lança alguma dúvida sobre as perspectivas de crescimento.”

Sugerir correcção