Histórias do Tour: Em busca da oportunidade perdida

Até ao final do Tour, o PÚBLICO traz histórias e curiosidades sobre os ciclistas em prova.

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Mezgec pela Orica, antigo nome da Mitchelton-Scott DR

Existem poucos momentos de maior entusiasmo para um ciclista do que estrear-se na Volta a França. É a mais conceituada corrida do mundo e todos querem corrê-la pelo menos uma vez na vida. Em 2020, há 42 estreantes, entre eles os renomados Tadej Pogacar, Miguel Ángel López ou Richard Carapaz, mas há outro que salta à vista: Luka Mezgec.

O ciclista esloveno teve de chegar aos 32 anos – e dez de carreira – para poder pedalar num Tour. E esta estreia tem um significado tremendo, já que Mezgec está a ter, em 2020, algo que lhe “roubaram” em 2018. E que lhe valeu uma desilusão profunda.

Há dois anos, ainda a correr na Michelton, Mezgec era apontado ao Tour como principal lançador de Caleb Ewan e backup para algum falhanço ou azar do australiano nos sprints. Mas tudo mudou em cima da hora.

“No início dessa época, sabia que havia grandes probabilidades de ir ao Tour pela primeira vez. O Caleb Ewan estava escalado para ir e precisava de um bom lançador. E disse a mim próprio que iria ao Tour. Sabia que dificilmente isso não aconteceria, pelo que interiorizei isso, até porque é mais fácil trabalhar quando temos um objectivo do que quando vivemos na incerteza”, chegou a explicar Mezgec.

No início de Maio desse ano, já com a corrida francesa em mente, a equipa levou um grupo de ciclistas para um estágio em altitude, na Califórnia. Mezgec esteve a analisar o percurso do Tour com Caleb Ewan e a procurar as melhores oportunidades de sprint. Tudo pronto, portanto.

Uma semana antes do Tour, Mezgec percebeu que a confiança que teve durante os meses anteriores fora desmedida. “Umas horas antes do anúncio dos convocados para o Tour, recebi uma chamada. Eu não iria lá estar. Nem o Caleb [Ewan]”.

Insegura do momento de forma de Ewan, a Michelton apostou tudo em levar uma equipa capaz de proteger Adam Yates nas montanhas e nas etapas planas mais traiçoeiras. A talhe de foice, diga-se que o plano não correu bem, já que Yates ficou num desapontante 29.º lugar.

Para Mezgec, tudo tinha ruído. “Depois da chamada tive um treino e só pensava ‘por que motivo estou a fazer isto?’. Nunca tinha estado tão desapontado por falhar uma corrida. Numa época é normal termos alterações no plano, mas, com o Tour, é diferente. Trabalhei muito e estava pronto, mas foi tudo em vão. À noite, fui beber cervejas com os meus amigos e desliguei de tudo”.

A desilusão de Mezgec foi profunda – depois desse anúncio, o esloveno esteve sem pegar na bicicleta durante vários dias –, mas tem, em 2020, uma recompensa.

Está no Tour, finalmente, aos 32 anos, e é o homem mais rápido da equipa, podendo entrar na luta pelos sprints. Já fez até um sexto lugar na etapa 5. 

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