Marcelo quer reconfiguração institucional UE/África até ao fim da presidência portuguesa

O Presidente da República afirmou que a cooperação entre Europa e África tem de “mudar estruturalmente” e pediu “novas organizações mais operacionais”.

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Marcelo repetiu a ideia de que as instituições têm de mudar para haver melhor cooperação financeira com África LUSA/MÁRIO CRUZ

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu esta quinta-feira que a União Europeia deve fortalecer o seu relacionamento com África através de uma reconfiguração institucional, concluindo esse processo até ao fim da presidência portuguesa.

O chefe de Estado português assumiu esta posição durante uma conversa com o Presidente da República do Gana, Nana Akufo-Addo, inserida na terceira edição do Fórum Euro-África, que se realizou por videoconferência, devido à pandemia de covid-19.

Marcelo Rebelo de Sousa, que falou em inglês, afirmou que a cooperação entre Europa e África tem de “mudar estruturalmente”, com “um novo quadro comum” ao nível institucional, considerando que organizações “concebidas noutra era” estão agora “largamente ultrapassadas”.

“É um grande desafio. Um desafio em relação ao calendário: devemos ter decisões até Outubro, quando se realizará a cimeira entre a União Europeia e a União Africana [durante a presidência alemã]. Devemos ter isso fechado durante a presidência portuguesa [da União Europeia] no primeiro semestre no próximo ano”, acrescentou.

O Presidente da República reiterou esta mensagem várias vezes ao longo desta conversa, defendendo que é preciso haver “menos organismos” e “novas organizações mais operacionais”.

“Temos de integrar os diferentes sistemas financeiros, temos de fortalecer o financiamento europeu relativamente a África, temos de o fazer rapidamente. Para mim é óbvio que deve haver conclusões preliminares antes do fim deste ano, durante a presidência alemã, e obviamente a definição final antes do fim da presidência portuguesa [da União Europeia]”, reforçou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “não se pode perder este calendário” para fazer “mudanças estruturais, escolhas institucionais”.

“Não se pode continuar a adiar eternamente a criação destas novas organizações mais operacionais, de forma a que as empresas privadas e os Estados e outros actores económicos possam realmente intervir e cooperar com África”, prosseguiu.

O chefe de Estado disse que “Portugal é muito proactivo e muito optimista” nesta matéria, realçando que o país irá assumir a presidência da União Europeia em Janeiro de 2021 e em anteriores presidências acolheu duas cimeiras com África.

“Mas estamos atrasados”, alertou. Dirigindo-se àqueles que “culpam a China por estar muito presente em África”, Marcelo Rebelo de Sousa interrogou “onde estavam” os europeus.

Nesta conversa com o Presidente do Gana, moderada pelo editor de África do Financial Times, David Pilling, Marcelo Rebelo de Sousa também falou sobre a resposta à pandemia de covid-19, sustentando que em “todo o mundo” houve falhas, mas que apesar de tudo a União Europeia foi “um exemplo de um actor que decidiu intervir e que interveio”.

“Em todos os continentes, a cooperação não funcionou, e isto não são boas notícias. A primeira pandemia global não teve a resposta adequada atempadamente”, lamentou, acrescentando, contudo: “Estamos a recuperar”.

De acordo com o chefe de Estado, “uma das lições da pandemia é reindustrializar” e, neste contexto, “África não pode continuar a viver da exportação de matérias-primas, não pode continuar a viver sem uma industrialização generalizada”.

“Então, vamos pensar em África e na necessidade de ter investimento lá, investimento estrangeiro, investimento europeu, nas estruturas de produção, de distribuição, para que se torne uma economia completamente diferente”, apelou.

O Fórum Euro-África é organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, uma associação sem fins lucrativos, constituída em Dezembro de 2012, com o alto patrocínio do anterior Presidente da República, Cavaco Silva, destinada a institucionalizar uma rede de contactos entre portugueses e luso-descendentes residentes no estrangeiro, com posições de destaque.

Tem como presidente honorário o Presidente da República e, actualmente, a sua direcção é presidida pelo empresário Filipe de Botton e o antigo primeiro-ministro português Durão Barroso é presidente da Mesa do Conselho da Diáspora.

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