Família divulga imagens de homem negro que morreu asfixiado por polícias em Nova Iorque

Agentes da cidade de Rochester enfiaram um capuz na cabeça de Daniel Prude, que sofria de problemas mentais, e pressionaram a sua cara contra o chão durante dois minutos. Caso ocorreu dois meses antes da morte de George Floyd. Polícias foram suspensos esta quinta-feira.

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Há muitas semelhanças entre o caso da morte de George Floyd (representado no cartaz da imagem) e de Daniel Prude EPA/MICHAEL REYNOLDS

Daniel Prude, um cidadão negro de 41 anos, com aparentes problemas mentais, foi asfixiado até à morte por  polícias da cidade de Rochester, no estado norte-americano de Nova Iorque. O caso ocorreu em Março, mas as circunstâncias da morte de Prude só foram conhecidas pela opinião pública na quarta-feira, depois de a sua família ter divulgado imagens e documentos da tragédia, exigindo justiça.

A vítima foi detida a 23 de Março por estar a correr pelas ruas de Rochester sem roupa, depois de o próprio irmão ter ligado para a polícia, a dar conta de que Daniel Prude – residente em Chicago, mas de visita à família – apresentava problemas mentais.

Os vídeos mostram Prude a obedecer e pôr as mãos atrás das costas quando a polícia ordenou que se sentasse no chão. Foi depois algemado e puseram-lhe um capuz especial na cabeça, usado para evitar que os detidos cuspam e mordam, conhecido por spit hood.

Prude pediu que lhe retirassem o capuz, mas um polícia atirou-o ao chão e outro manteve-lhe a cabeça pressionada contra o pavimento, com as mãos, enquanto um terceiro lhe colocava um joelho nas costas. Passados dois minutos, Prude deixou de se mexer e falar. 

“Ele está demasiado frio”, notou, por essa altura, um dos agentes. Nas imagens vêem-se médicos a assistir o afro-americano, antes de este ser levado para uma ambulância. Morreu uma semana depois, a 30 de Março, no hospital. 

As circunstâncias da morte de Daniel Prude foram muito semelhantes à de George Floyd, outro afro-americano morto às mãos da polícia de Mineápolis (Minnesota), cerca de dois meses depois, cuja história deu origem a massivos protestos anti-racistas e contra a violência policial, nos Estados Unidos e um pouco por todo o mundo.

O episódio mediático mais recente de violência policial teve lugar em Kenosha, no estado do Wisconsin, onde Jacob Blake, também negro, foi atingido nas costas com sete tiros, por um agente policial, em frente aos filhos, tendo ficado paraplégico.

O caso de Prude só recebeu atenção pública na quarta-feira, quando a sua família realizou uma conferência de imprensa e divulgou os vídeos das câmaras dos uniformes dos polícias e os relatórios escritos, que obteve através de um requerimento de acesso a registos públicos.

“Fiz uma chamada para pedir ajuda para o meu irmão e não para fazer com que fosse linchado”, denunciou Joe Prude, irmão da vítima, aos jornalistas. “Quantos mais irmãos têm de morrer para que a sociedade compreenda que isto tem de parar?”

Segundo o relatório da autópsia, ao qual o jornal local Democrat and Chronicle teve acesso, a morte de Prude foi justificada por “complicações de asfixia em contexto de constrangimento físico”.

Num comunicado, a procuradora-geral do estado de Nova Iorque, Letitia James, definiu o caso como uma “tragédia” e revelou que já há uma investigação judicial em curso. “Vamos seguir os factos deste caso e garantir uma apreciação completa e detalhada a todos os elementos relevantes”.

Segundo o New York Times, sete polícias foram suspensos pela mayor da cidade, Lovely Warren, pelo seu envolvimento na morte de Daniel Prude. É a primeira acção das autoridades contra os polícias envolvidos no incidente em mais de cinco meses. Na quarta-feira, Lovely Warren prometeu “uma investigação justa e independente” à família de Prude.

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