A solidão de Nick Cave no Alexandra Palace vai ser disco e filme

O concerto emitido em streaming a 23 de Julho vai estrear-se nos cinemas mundiais a 5 de Novembro. No dia 20 chegará a edição em CD e vinil.

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A ideia de registar as suas canções despidas a voz e piano surgiu no decorrer dos concertos/sessões Conversations with Nick Cave

No dia 23 de Julho, Nick Cave mostrou-se aos olhos do mundo, sozinho num vazio Alexandra Palace, em Londres, a interpretar ao piano 22 canções de vários pontos da sua carreira. Foi a sua resposta ao cancelamento da digressão que estaria a cumprir neste momento — a primeira data estava marcada para a Altice Arena, em Lisboa, a 19 de Abril — e que a pandemia veio adiar — o concerto português foi reagendado para o mesmo local, no dia 24 de Maio de 2021.

O que não sabíamos então é que o concerto em streaming se realizou por causa da pandemia mas a música que ali ouvimos não teve origem nela. Antes de a covid-19 tomar conta do mundo, já Cave planeava gravar as suas canções neste formato, descarnadas a voz e piano. E assim as ouviremos a 20 de Novembro, data da edição do álbum Idiot Prayer: Nick Cave Alone at Alexandra Palace — antes, a 5, o filme do concerto estrear-se-á nas salas de cinema mundiais (filme e álbum incluem quatro canções que ficaram fora do streaming original).

Registado pelo irlandês Robbie Ryan, director de fotografia que trabalhou, entre outros, com Ken Loach e Stephen Frears, o concerto foi filmado a 19 de Junho, cerca de um mês antes do streaming. Segundo o comunicado divulgado nesta quinta-feira por Nick Cave, dando conta da edição em disco e da estreia em sala, a génese de Idiot Prayer encontra-se nas sessões/concertos Conversations with Nick Cave, o espectáculo em que respondia às questões do público e intercalava com canções ao piano o diálogo que se ia estabelecendo com os espectadores. “Adorei tocar versões desconstruídas das minhas canções nesses concertos, destilando-as à sua essência. Senti que estava a redescobri-las novamente e comecei a pensar em ir para um estúdio e gravar estas versões reinventadas num momento qualquer — quando conseguisse encontrar tempo para o fazer.”

O tempo chegou, ou melhor, o tempo impôs-se quando a pandemia se instalou e, pegando nas palavras de Cave, o mundo “caiu num silêncio fantasmagórico e auto-reflexivo”. A ideia de gravar as canções transformou-se então, também, na ideia de as filmar num contexto adequado. Escolheu o Alexandra Palace, em Londres — “uma sala onde já tinha tocado e que adoro” —, e, num dia em Junho, rodeado de gente armada de câmaras e microfones, mas também de termómetros e frascos de gel, criou “algo muito estranho e muito bonito que falou para o interior deste tempo de incerteza, mas que não se vergou a ele de forma alguma”.

Em Julho, as dezenas de milhares que pagaram bilhete para acompanhar o streaming testemunharam o resultado. Em Novembro, em CD, vinil, ou na sala de cinema, será a vez de todos os outros poderem receber esta “recordação de um estranho e instável momento da História”.

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