Covid-19: Centro Europeu de Doenças defende que fechar escolas deve ser última medida a adoptar

A directora do ECDC alerta para o impacto na educação das crianças. Já quanto ao regresso ao trabalho, considera que só deve acontecer “quando o teletrabalho não é uma opção”.

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“As crianças têm sintomas mais leves e menos hospitalizações”, destaca Andrea Ammon LUSA/MATTEO CORNER

A directora do Centro Europeu para Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) defendeu esta quarta-feira que o encerramento das escolas na Europa devido à covid-19 deve ser “a última medida a adoptar”, devido ao impacto na educação das crianças.

“As escolas são uma parte essencial da sociedade e vida das crianças [...] e, por isso, concluímos que fechar as escolas deve ser a última medida a adoptar, se necessário”, para conter a pandemia, afirmou Andrea Ammon.

Intervindo por videoconferência na comissão de Saúde Pública do Parlamento Europeu, em Bruxelas, a responsável destacou que, “no caso de países que reabriram as escolas mais cedo”, após o confinamento geral na Europa, “não se registaram aumentos nos contágios” nestes estabelecimentos de ensino.

Acresce que “as crianças raramente são afectadas pelo vírus e isso manteve-se durante todos estes meses” de covid-19 na Europa, acrescentou Andrea Ammon, ilustrando que “menos de 5% das pessoas infectadas têm menos de 18 anos”. “As crianças têm sintomas mais leves e [...] menos hospitalizações”, reforçou a especialista.

Por outro lado, continuou a responsável, “houve exemplos de que fechar as escolas [como medida de contenção] teve impacto na educação e nas capacidades das crianças”, observou Andrea Ammon. Ainda assim, a responsável admitiu ser “difícil avaliar a contribuição real do encerramento das escolas para a redução” das infecções, sendo ainda “inconclusivo dizer se é útil ou não, do ponto de vista da propagação, fechar as escolas”.

Para evitar focos de infecção, Andrea Ammon frisou que “as escolas não podem abrir como dantes”, devendo agora “seguir medidas como o distanciamento físico, a higiene das mãos, o fim de aglomerados e a introdução de horários rotativos”. “É preciso colocar medidas em prática para reduzir a transmissão”, insistiu, reconhecendo porém que “isso vai sempre depender da situação local e do espaço existente”.

Já relativamente ao regresso ao trabalho, Andrea Ammon notou que isso só deve acontecer “quando o teletrabalho não é uma opção”. A responsável recordou, ainda, a existência de alguns surtos em locais de trabalho nos últimos meses, em sítios como fábricas, o que “aconteceu devido à proximidade física dos trabalhadores”, por estarem em instalações partilhadas, com má ventilação, e por partilharem transportes, entre outros factores.

Estas declarações são semelhantes às do chefe-adjunto do programa de doenças do ECDC, Piotr Kramarz, que em entrevista à agência Lusa publicada no passado sábado considerou que as escolas podem reabrir na Europa, dado não se terem registado muitos surtos nestes estabelecimentos, mas aconselhou as empresas a manterem o teletrabalho.

“Consideramos que, tendo em conta os dados disponíveis, as crianças e as escolas não são as maiores fontes de propagação desta pandemia”, disse Piotr Kramarz à Lusa. Por essa razão, “os países deverão abrir as suas escolas [em Setembro] e sugerimos algumas medidas para serem adoptadas, que devem ser coerentes com as restantes regras da comunidade, como tentar aumentar o distanciamento físico entre alunos”, acrescentou o cientista.

Numa altura em que vários países europeus, incluindo Portugal, preparam o regresso físico às aulas e ao trabalho presencial, que estiveram suspensos para serem realizados à distância durante vários meses devido às regras de contenção para a pandemia de covid-19, Piotr Kramarz defendeu que “o teletrabalho é uma medida que deve continuar a ser considerada nos próximos tempos”, “especialmente agora”, devido aos aumentos nos números de casos.

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