Irão acusado de torturar manifestantes detidos no ano passado

Relatório da Amnistia Internacional dá conta de dezenas de pessoas que dizem ter sido vítimas de tortura pelas forças de segurança.

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Protestos contra o Governo em Novembro do ano passado EPA

As autoridades iranianas são acusadas de ter sujeitado dezenas de pessoas detidas durante as manifestações contra o Governo do ano passado a uma série de práticas de tortura, segundo um relatório da Amnistia Internacional publicado esta quarta-feira.

A organização de defesa dos direitos humanos recolheu dezenas de testemunhos entre os cerca de sete mil detidos, entre os quais crianças de dez anos, durante os protestos de Novembro do ano passado contra a subida do preço da gasolina. Para além da tortura, os presos viram cortado o acesso aos advogados durante os interrogatórios, durante os quais lhes foram retiradas confissões forçadas.

A Amnistia Internacional diz que os relatos recebidos expõem “um catálogo de violações de direitos humanos chocantes, incluindo detenção arbitrária, desaparecimentos forçados, tortura e outros maus-tratos”.

Entre os abusos cometidos pelas forças de segurança sobre os manifestantes detidos são elencados waterboarding (afogamento), espancamentos, choques eléctricos, violência sexual, retirada forçada de unhas dos pés e das mãos e o uso de spray de pimenta nos órgãos genitais.

Um homem que diz ter sido sujeitado a choques eléctricos descreve-o da seguinte forma: “Parecia que todo o meu corpo estava a ser furado com milhões de agulhas.”

“Em vez de investigar as alegações (…), os procuradores iranianos tornaram-se cúmplices da campanha de repressão ao apresentar acusações de [violação da] segurança nacional contra centenas de pessoas apenas por terem exercido os seus direitos de liberdade de expressão, de associação e de reunião pacífica”, diz a vice-directora regional da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África, Diana Eltahawy.

As penas de prisão para os manifestantes condenados variaram entre um e dez anos de prisão, segundo o relatório.

Em Novembro, protestos por todo o país estalaram como resposta à subida abrupta do preço dos combustíveis, provocada pela deterioração acelerada da economia iraniana em virtude da reposição das sanções económicas pelos EUA, após o rompimento do acordo sobre o programa nuclear assinado em 2015. As manifestações assumiram contornos violentos, com confrontos entre civis e forças de segurança.

Em Maio, o Governo iraniano disse estimar em cerca de 230 mortos durante aquele período, mas um painel de especialistas das Nações Unidas apontava para mais de 400 vítimas durante a repressão.

O Governo de Teerão acusou os EUA e Israel de promoverem os protestos para tentar forçar uma mudança de regime.

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