Novo Banco: Ramalho compara equipa a bombeiros chamados a combater “fogo posto”

CEO do banco disse ser um “executante” dos compromissos assumidos entre Portugal e a Comissão Europeia em 2017, quando Lone Star comprou 75% do capital do Novo Banco

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DIOGO VENTURA

O presidente executivo do Novo Banco comparou esta quarta-feira a equipa de gestão, que lidera, com bombeiros que foram chamados a apagar um fogo, elogiando-a, e afirmando que o incêndio foi “fogo posto”.

No final da conferência de imprensa, em Lisboa, a propósito da auditoria da Deloitte ao BES/Novo Banco entre 2000 e 2018, António Ramalho fez questão de fazer uma intervenção final em que elogiou a equipa que está à frente do Novo Banco e que, segundo disse, foi chamada a fazer face a um fogo “extremamente perigoso”.

“Confesso que por vezes me custa que quer a comunicação social, quer comentadores, quer políticos se esqueçam disso e procurem verificar qual a conta da água. Nós não esquecemos que estamos cá para apagar este incêndio e apagaremos este incêndio, sobretudo porque também sabemos que foi fogo posto”, afirmou Ramalho.

Pressão para vender

Durante a conferência de imprensa, o presidente executivo do Novo Banco defendeu a venda de activos imobiliários em pacote, afirmando que o banco demoraria 20 anos a vender imóveis se vendesse um a um.

Em conferência de imprensa, António Ramalho disse que o banco realizou a venda de activos, nomeadamente carteiras de activos imobiliários, porque assim ficou decidido nos compromissos do Estado português com a Comissão Europeia e que para isso recorreu a concursos competitivos internacionais, a consultores e defendeu que as operações foram posteriormente muito escrutinadas.

“Se fossemos a vender activo a activo, mesmo a vender cinco por dia, demorávamos mais de 20 anos quando tínhamos dois anos para o fazer”, afirmou em conferência de imprensa, em Lisboa, a propósito da auditoria da Deloitte aos actos de gestão do BES/Novo Banco entre 2000 e 2018.

Ramalho disse ser um “executante” dos compromissos assumidos entre Portugal e a Comissão Europeia, aquando da venda de 75% do banco à Lone Star (em 2017), acrescentando que, se não o fizesse, o banco teria de alterar a sua dimensão, incluindo com despedimentos.

A auditoria da Deloitte aos actos de gestão do BES/Novo Banco refere-se ao período entre 2000 e 2018 (ou seja, abarcando quer o período antes quer depois da resolução do BES e criação do Novo Banco), decorre desde o ano passado e deveria ter ficado concluída em Julho, tendo sido entregue no início da semana ao Governo.

Esta auditoria já foi motivo de confronto político, desde logo em Maio último entre o primeiro-ministro, António Costa, o então ministro das Finanças, Mário Centeno, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, depois de o chefe do Governo ter dito que a injecção de capital no Novo Banco só seria feita depois de conhecida esta auditoria quando essa injecção já tinha sido realizada (no valor de 1035 milhões de euros).

Em Junho e Julho foram divulgados pela imprensa negócios de venda de activos do Novo Banco que motivaram desconfiança dos vários quadrantes políticos e, em Julho, o Governo disse que o Novo Banco não deveria realizar novas operações de venda de carteiras de activos até a auditoria ser conhecida.

As vendas de activos do novo banco designadas Nata II (venda de créditos malparados) e Sertorius (venda de imóveis) não estão incluídas na análise da auditoria, uma vez que já foram concluídas após o período a que se refere a auditoria.

Na terça-feira de madrugada, o Ministério das Finanças disse, em comunicado, que recebeu o relatório da auditoria externa e que esse “será remetido à Procuradoria-Geral da República considerando as competências constitucionais e legais do Ministério Público”.

Segundo o Governo, o relatório revela perdas líquidas de 4042 milhões de euros no Novo Banco (entre 4 de Agosto de 2014, um dia após a resolução do BES, e 31 de Dezembro de 2018) e “descreve um conjunto de insuficiências e deficiências graves” no BES, até 2014, na concessão de crédito e investimento em activos financeiros e imobiliários.

Nascido na resolução do BES (em 3 de Agosto de 2014), 75% do Novo Banco foi vendido em Outubro de 2017 ao fundo de investimento norte-americano Lone Star, mantendo o Fundo de Resolução bancário 25%, numa solução acordada entre Banco de Portugal e Governo.

Aquando da venda, foi acordado um mecanismo de capital contingente, que prevê que até 2026 o Fundo de Resolução compensa o Novo Banco por perdas de capital num conjunto de activos que “herdou” do BES até 3890 milhões de euros.

Desde então e até hoje, o Fundo de Resolução já injectou 2.976 milhões de euros e ainda poderá colocar mais de 900 milhões de euros, valores que em cada ano têm impacto nas contas públicas uma vez que o Fundo de Resolução é uma entidade da esfera do Estado.

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