Não há Cavani, há Núñez. O Benfica quer que seja quase a mesma coisa

Investir em Edinson Cavani rondaria os 60 milhões de euros, entre prémios e salários, pelo que trazer Darwin Núñez é um rombo menor na carteira “encarnada”. Conheça o novo avançado do Benfica.

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Núñez jogou no Almeria em 2019/20 DR

Foram meses de “novela Cavani”, com o Benfica a falhar a contratação do conceituado avançado uruguaio. Agora, chega o “novo Cavani”. Muito semelhante ao compatriota nas valências que traz ao jogo, Darwin Núñez, o novo reforço do Benfica, chega por valores bem mais em conta do que teria chegado Cavani. Ainda assim, está longe de ser uma pechincha.

Tem sido escrito que o Benfica vai pagar 24 milhões de euros para contratar o avançado ao Almeria, da II divisão espanhola. E este é um ponto essencial: segunda divisão espanhola.

Em tempos de pandemia, com os clubes a moderarem os intentos negociais, o Benfica tem surgido em contraciclo, demonstrando grande frescura financeira. E, apesar dos 21 anos e consequente margem de progressão do jogador, pagar 24 milhões de euros por um atleta sem experiência numa primeira divisão atesta a postura all in dos “encarnados” para 2020/21. E vão bater, com Núñez, o recorde de valor pago por um jogador: até então, o máximo tinha ficado nos 22 milhões de euros pagos por Raúl Jiménez.

Apostado em dar a Jorge Jesus todas as condições para recuperar a hegemonia nacional e o prestígio internacional, o Benfica poderá ter cedido à tentação de negociar Núñez por valores acima do habitual. Mas o golo está caro, no futebol actual, e, diz quem conhece o jogador, este investimento terá retorno.

“No contexto em que está inserido e trabalhando com um treinador que consegue tirar o melhor dos jogadores, ele será um grande reforço para o Benfica e, provavelmente, o clube irá rentabilizar, no futuro, o dinheiro que está a gastar agora”, avançou à Renascença Nandinho, ex-treinador de Núñez no futebol espanhol.

Versatilidade, mobilidade, força e finalização

Mas quem é, afinal, Darwin Núñez? E o que fez para valer este investimento? Para esfriar os juízos críticos de quem vê valores excessivos neste negócio, Núñez traz, como “cartão-de-visita”, 16 golos em 32 jogos pelo Almeria. Pouco para quem actuou no segundo escalão do futebol espanhol? Poderá haver quem o argumente. Mas o Benfica contratou, mais do que números, um perfil de jogador.

Com Núñez, Jorge Jesus recebe não um ponta-de-lança clássico, mas um avançado. Com quase 1,90m e estampa física imponente, Núñez tem corpo para os duelos entre os centrais, mas está longe de ser um jogador de área.

O uruguaio tem capacidade técnica e gosta de pisar terrenos longe da área, ora para jogar em apoios frontais, dando soluções em zonas interiores, ora para obrigar os defensores a marcarem-no em zonas que lhes são menos confortáveis.

A potência quando “embala” em profundidade é outra virtude do uruguaio, que traz ainda o “extra” de, como bom avançado sul-americano, não ter problemas em voluntariar-se em tarefas defensivas, pressionando a primeira fase de construção adversária.

Em suma, Darwin Núñez tem um vasto leque de valências físicas e técnicas, sendo uma cópia muito fiel de Edinson Cavani, jogador que o Benfica tentou contratar já neste Verão.

De resto, até pela nacionalidade, Núñez é visto como um sucessor de Cavani na selecção do Uruguai, tendo já sido internacional pela equipa sul-americana. Nesse jogo particular frente ao Perú, Cavani não esteve presente. Núñez, chamado ao jogo aos 75 minutos, marcou… aos 80.

Jesus tem um lugar para Núñez

No Benfica, Darwin Núñez tem uma função clara à sua espera. O 4x4x2 predilecto de Jorge Jesus continua carente de um verdadeiro avançado goleador. Carlos Vinícius tem sido apontado à saída, Dyego Sousa contará ainda menos, as virtudes de Seferovic estão longe da capacidade finalizadora e Gonçalo Ramos não tem, para já, o estatuto para ser uma aposta a titular.

Neste contexto, falta alguém para acompanhar Waldschmidt, Pizzi ou Rafa no duo da frente. Não é crível que Núñez pegue já de estaca a titular, pela exigência que é conhecida a Jorge Jesus na integração de novos jogadores, mas, a curto prazo, o lugar de avançado titular parece reservado ao uruguaio.

Resta saber como se adaptará Núñez ao futebol português e, antes disso, ao dia-a-dia com Jorge Jesus. Nandinho, ex-treinador do uruguaio, não tem dúvidas de que o gosto pelo treino colocará Núñez em sintonia com Jesus.

“Trabalhei com ele na época que terminou. Pude constatar que é um miúdo que gosta de trabalhar, de treinar e de aprender. É muito competitivo, em todos os exercícios ele quer sempre mais e mais. Quando treinávamos a finalização, então tinham de tirar-lhe a bola porque ele não descansava. Isso mostra que não estava acomodado apesar de já ser o melhor jogador da equipa, aos 21 anos. Tem grande margem de progressão e pode tornar-se num dos melhores avançados do futebol atual”, refere o treinador.

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