Morreu o contratenor Claudio Cavina, fundador do agrupamento La Venexiana

O contratenor e musicólogo era uma referência absoluta na investigação e na interpretação do madrigal, devendo-se-lhe o resgate de obras de Monteverdi e Gesualdo.

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O contratenor e musicólogo italiano Claudio Cavina, de 58 anos, morreu no domingo, em Itália, anunciou esta segunda-feira o agrupamento La Venexiana, que dirigia e fundou.

Conhecido como “a voz do madrigal”, pela investigação e recuperação que efectuou de obras dos compositores Claudio Monteverdi e Gesualdo, Cavina estudou no conservatório de Bolonha e na Escola de Basileia com o contratenor René Jacobs, pioneiro da interpretação historicamente informada.

Depois de se destacar como solista em formações como Concerto Italiano, Concerto Köln, Huelgas Ensemble, La Colombina ou Europa Galante, criou em 1995 o seu próprio agrupamento, La Venexiana, em parceria com a soprano Rosanna Bertini, depressa atingindo a primeira linha na interpretação de música antiga.

À frente do La Venexiana, Cavina reconstituiu um repertório, assente em investigação inédita, que contempla a integral dos nove livros de madrigais de Claudio Monteverdi, o compositor a quem se deve a origem do chamado “dramma per musica”, com a estreia de L'Orfeo, em Mântua, em 1607.

A Cavina se deve também o resgate de todas as composições sacras conhecidas de Monteverdi, Selva Morale e Spirituale, e as óperas sobreviventes do mestre da catedral de São Marcos, em Veneza_ L'Orfeo, Ritorno d'Ulisse in PatriaIncoronazione di Poppea.

A investigação de Cavina estendeu-se, porém, a toda a produção musical dos séculos XVI e XVII, deixando testemunhos de Gesualdo, Marenzio, Wert, D'India, Strozzi e Luzzaschi, numa dimensão até então inédita, na história da música europeia. Foi também um intérprete premiado do barroco veneziano, em particular de obras de Francesco Cavalli, Gasparini e Benedetto Marcello.

A revista espanhola Scherzo, especializada na investigação da música de tradição europeia, escreve que Cavina “fica inscrito na história da interpretação do madrigal e como fundador do conjunto La Venexiana”, recordando que as suas gravações receberam “os máximos reconhecimentos da crítica especializada”, tendo “familiarizado o grande público com o [seu] repertório”.

Nos últimos anos, Cavina encontrava-se afastado dos palcos, na sequência de um acidente vascular sofrido na noite de Natal de 2016.

Actuou por diversas vezes em Portugal, no âmbito das temporadas de música de instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian e a Casa da Música, e participou recorrentemente na Festa da Música do Centro Cultural de Belém.

Quase toda a sua discografia está editada pela Glossa.

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