Ultimato, declaração (de amor) ou meras palavras. As reacções à entrevista em que Costa fala sobre crise

Bloquistas e comunistas responderam à entrevista que o primeiro-ministro deu ao Expresso. Rui Rio também comentou.

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Catarina Martins no Parlamento Nuno Ferreira Santos

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, foi a primeira líder dos partidos que estão a negociar com o Governo o Orçamento do Estado para 2021 a reagir à entrevista do primeiro-ministro ao Expresso. A bloquista desvaloriza a ameaça de crise política, no caso de não haver acordo, e diz que não é a primeira vez que há um ultimato destes. No Twitter, o líder do PSD assinalou a ideia de que o primeiro-ministro reclama o centro político para o PS. Já o PCP recorda a ideia exposta no editorial do jornal Avante! de quinta-feira: “O PCP prosseguirá a sua acção”.

“Não é o primeiro ultimato sobre crise política. Não resolve nada e não mobiliza ninguém”, escreveu a líder do Bloco na rede social Twitter. “Precisamos, isso sim, de respostas fortes à crise sanitária, social e económica. Desde logo, no OE2021. O Bloco concentra-se nas soluções para o país.” 

Rui Rio reagiu já durante a tarde, sublinhando que António Costa se volta a declarar ao BE e ao PCP ao dizer que não consegue viver sem eles e ao mesmo tempo que propõe um casamento em regime de comunhão geral. António Costa diz que o centro político se revê no PS e não no PSD. Como diria Fernando Pessa, ‘E esta, hem?’”, escreveu o líder do PSD no Twitter. 

Também o PCP usou o Twitter para reagir, recordando o editorial do jornal Avante! que o PÚBLICO noticiou na sexta-feira e que foi publicado antes do início das reuniões com os partidos. “Sejam quais forem as circunstâncias em que tenha que intervir, o PCP reafirma a sua determinação na defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo e das liberdades democráticas. O PCP prosseguirá a sua acção.”

Mais tarde, o gabinete de imprensa do partido emitiu uma nota a pedir mais do que “palavras” e defender que “os problemas não se resolvem ameaçando com crises mas sim encontrando soluções para responder a questões inadiáveis que atingem a vida de milhares de pessoas e com opções que abram caminho a uma política desamarrada das imposições da União Europeia e dos compromissos com o grande capital”.

Sobre o afastamento em relação ao PSD, sinalizado por Costa, o PCP acrescentou: “ Não basta declarar que não se quer nada com o PSD, é preciso que não se façam as mesmas opções que este faria. Tanto mais quando se continuam a registar em diversas matérias relevantes convergências entre os dois partidos.”

Na entrevista publicada neste sábado, António Costa deixou claro que nada ficará como está se não conseguir o apoio da esquerda para o seu orçamento. “Se não houver acordo, é simples: não há Orçamento e há uma crise política. Aí estaremos a discutir qual é a data em que o Presidente terá de fazer o inevitável”, anunciou o primeiro-ministro.

Dois dias antes, Marcelo Rebelo de Sousa já respondera a esta ameaça, rejeitando crises políticas. “O Presidente da República não vai alinhar em crises políticas. Desenganem-se os que pensam que, se não houver um esforço de entendimento, vai haver dissolução do Parlamento no curto espaço de tempo que o Presidente tem pela frente para isso, que é até ao dia 8 de Setembro”, disse na quinta-feira, em Lisboa.

No dia seguinte, no Porto, insistiu: “Se houver uma crise que obrigue a um debate político e um intervalo de meses, a capacidade de resposta em termos de recuperação, de resposta à pandemia e à crise económica, fica adiada. Quem ganha com isso? Ninguém.” 

De acordo com a Constituição, a Assembleia da República não pode ser dissolvida nos primeiros seis meses após a sua eleição, nem no último semestre do mandato do Presidente da República (que termina a 8 de Março de 2021).

* Notícia actualizada às 19h e às 21h com o comentário de Rui Rio e a nota do gabinete de imprensa do PCP.

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