Portugal saúda acordo Israel-Emirados e suspensão de planos de anexação

O chefe da diplomacia portuguesa explicou ainda que os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia defenderam a formação de um governo de transição, civil, no Mali.

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Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Portugal saúda o acordo de normalização das relações entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, sobretudo porque ele implica a suspensão dos planos de anexação do Vale do Jordão, disse nesta sexta-feira à Lusa Augusto Santos Silva.

O ministro falava à Lusa, por telefone, depois de participar, em Berlim, no Conselho informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) e num almoço de trabalho dos 27 com o chefe da diplomacia israelita, Gabi Ashkenazi.

“Falando em nome de Portugal, tive a preocupação essencial de dizer ao ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel que saudávamos o acordo com os Emirados Árabes Unidos”, afirmou.

O apoio, explicou, deve-se a “várias razões”, “a principal das quais o facto de esse acordo representar a suspensão dos planos de anexação no Vale do Jordão”, para Portugal “a questão mais urgente”.

“Queria valorizar, aliás também a benefício da UE, o facto de até agora termos conseguido um objectivo que definimos como essencial desde o momento em que Israel anunciou as suas intenções de anexar: convencer Israel a não o fazer, contribuir para que fosse impedida a concretização do plano de anexação, que do nosso ponto de vista colocaria em sério risco a solução dos dois Estados”, acrescentou Santos Silva.

Com o acordo alcançado, os Emirados tornam-se o primeiro Estado Árabe do Golfo a estabelecer relações diplomáticas com Israel e a terceira nação árabe a fazê-lo, depois do Egipto (1979) e da Jordânia (1994).

A normalização das relações entre Israel e os Emirados fazia parte do plano do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o Médio Oriente, apresentado em Janeiro, que previa também a anexação por Israel do vale do Jordão e de colonatos na Cisjordânia.

Segundo o príncipe herdeiro dos Emirados, Mohammed bin Zayed, o acordo “foi alcançado para encerrar qualquer anexação adicional de territórios palestinianos”.

Mas, para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o plano de anexação de partes da Cisjordânia ficou “adiado” com o acordo com os Emirados Árabes Unidos, mas pode avançar um dia.

UE pede governo de transição no Mali

O chefe da diplomacia portuguesa explicou ainda que os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia defenderam a formação de um governo de transição, civil, no Mali (onde há uma semana um golpe de Estado militar afastou o Presidente, Ibrahim Boubacar Keita), e a retoma do processo eleitoral “o mais depressa possível”.

“Entendemos que é preciso formar um governo de transição o mais depressa possível, que esse governo tem de ser de natureza civil e que deve ser retomado, também o mais depressa possível, o processo eleitoral, quer relativamente a eleições presidenciais, visto que o Presidente Keita se demitiu, quer em relação a eleições legislativas”, afirmou o ministro português.

Segundo Santos Silva, “esse foi o consenso fundamental” e “a linha de intervenção de todos os ministros [da UE] que se pronunciaram sobre a situação no Mali”.

A junta militar que tomou o poder no Mali afirma que devolverá o poder aos civis dentro de um período de tempo de três anos, até à realização de eleições, mais do dobro do tempo que mediou o anterior golpe de Estado no país, em 2012, e a realização de eleições que levaram ao poder Boubacar Keita, que governava desde 2013 e renovou nas urnas o mandato de cinco anos em 2018.

O golpe no Mali, país onde Portugal tem 74 militares integrados em missões da Organização das Nações Unidas (ONU) e da UE, foi rejeitado pela UE, pela ONU, pela União Africana e pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

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