Dragagens em Vila do Conde e Póvoa de Varzim “já vêm tarde”

Trabalhos estão marcados para Outubro. Armadores consideram que a altura não é a melhor e queixam-se do atraso. O gabinete do secretário de Estado das Pescas diz que avançou assim que detectou o problema na barra da Póvoa.

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A acumulação de areias é um problema estrutural do porto da Póvoa de Varzim MANUEL ROBERTO / PUBLICO

O Ministério do Mar agendou para Outubro dragagens de urgência nos Portos de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, mas alguns representantes de armadores e pescadores locais entendem que a operação já “vem tarde”. A secretaria de Estado das Pescas adianta ter accionado todas as medidas para evitar o assoreamento da barra e da bacia das duas zonas portuárias assim que o problema foi detectado, na sequência de vários episódios de elevada precipitação durante o Verão. Porém, as associações de trabalhadores da zona garantem que este é um problema mais antigo, com origem noutras estações.

“Nunca os portos estiveram tão secos como neste ano”, atira Manuel Marques, mestre e dirigente da Associação de Armadores de Pesca do Norte (AAPN), chamando atenção para a concentração de sedimentos na barra e na bacia de rotação dos barcos, que vai perdendo profundidade e pondo em risco a segurança de navegação das embarcações. O Ministério do Mar confirmou a necessidade de uma intervenção e anunciou esta quarta-feira “um procedimento por consulta prévia por motivos de urgência imperiosa” para a contratação de dragagens nos portos de Vila do Conde e Póvoa de Varzim. O concurso, aberto na terça-feira, pressupõe um investimento de 1,46 milhões de euros na retirada de sedimentos, de modo a repor a segurança dos barcos.

Mas o armador e mestre do Silva Marques não parece convencido com a data apontada para o início dos trabalhos de dragagem. “No Inverno, com o mau tempo, são mais as vezes em que a draga fica parada do que as que está a trabalhar”, explica. Resultado disso, sublinha, “é ficar tudo na mesma”. A melhor altura para as dragagens teria sido em Abril, quando “já existia o problema”. Pelo menos é o que considera Manuel Marques, que, como outros, está “há muito tempo” à espera de uma intervenção.

A data que aponta como melhor alternativa para uma empreitada desta natureza tem por base as contrariedades imprevisíveis ditadas pelas condições climatéricas: “No Verão os trabalhos terminariam mais cedo e com melhores resultados. No Inverno a draga não consegue estabilizar”. Outro problema, considera, é a forma como “as dragas habituais” trabalham. O armador acredita que seria melhor retirar os sedimentos, devolvendo a areia à praia e não ao mar. “A areia vai para o mar-alto. Por dia, não dá para fazer mais do que cinco viagens”. Além dessa contrariedade, chama a atenção para a “falta de areia” nas praias da zona.

Esta operação vem “Fora de horas”, insiste Carlos Cruz, presidente da Apropesca - Organização de Produtores de Pesca Artesanal, sediada em frente ao porto poveiro. “Seria de aceitar se a draga chegasse em Julho ou em Agosto”, afirma. Depois de Setembro, “com o mar a picar”, considera já vir tarde. As consequências do “assoreamento” reflectem-se, nota, em episódios inaceitáveis: “na sexta-feira tivemos a barra fechada com sete barcos do cerco à porta entre as 12h e as 15h”. As traineiras só entraram no Porto da Póvoa de Varzim quando a maré “deixou”.

O dirigente da Apropesca afirma estar à espera há mais de um ano de uma intervenção que permita embarcações “que podem chegar aos 20 metros” trabalharem com segurança. Desde essa altura, considera ainda não ter existido nenhuma acção eficaz.

Estaleiros vão ter de esperar

Ao PÚBLICO, o gabinete do secretário de Estado das Pescas recorda ter sido realizada outra intervenção de urgência no ano passado. Essa intervenção foi levada a cabo em Setembro de 2019, apesar de inicialmente ter estado marcada para Julho. Já em 2020, diz o gabinete, abriu-se caminho para esta dragagem de urgência, “logo que foi detectada” a necessidade da mesma. Desta forma, adianta, nunca teria sido possível avançar para a empreitada num período que não fosse o que está na agenda.

Há mais tempo à espera que uma draga passe pelas suas instalações estão os Estaleiros Samuel e Filhos, em Vila do Conde, uma das várias empresas de construção naval a operar na margem esquerda da foz do Ave. “Já estamos a ter problemas há mais de um ano e meio”, diz José Manuel Samuel. Uma das consequenciais da falta de limpeza de sedimentos é visível, assinala, na plataforma de encalhe, que já “não vai tão abaixo” – uma contrariedade em altura de encostar os barcos. Não faltaram promessas, nota, mas o certo é que a intervenção não avançou: “Estava consignado na última dragagem fazer limpeza na bacia do estaleiro”, recorda. O gabinete do secretário de Estado das Pescas confirma, mas deixa uma má notícia: “A dragagem nos estaleiros só poderá avançar quando houver cabimento orçamental”.

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