UTAD lança pós-graduação em Fogos Rurais numa parceria com a Escola Nacional de Bombeiros

A formação arranca em Outubro. Agrega docentes de várias universidades e até incorporará um módulo de Psicologia, revela Domingos Lopes, director do curso e docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douto (UTAD). Em 2020 já se registaram 6622 incêndios rurais.

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LUSA/PAULO NOVAIS

Uma parceria entre a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e a Escola Nacional de Bombeiros dará lugar, já a partir de Outubro, a um curso de pós-graduação em Gestão de Fogos Rurais. A formação estende-se, “em princípio, até Maio de 2021”.

Terá “um carácter essencialmente prático”, vai a decorrer “sempre fora dos períodos críticos de incêndios florestais” e funcionará com “aulas presenciais e aulas B-learning”. Visa responder à “necessidade de uma resposta eficaz à crescente ameaça dos incêndios rurais e diminuição dos riscos para a floresta e as populações”.

Domingos Lopes, docente da UTAD e director do curso, explica ao PÚBLICO que contam ter “alunos de todo país, incluindo das ilhas”. Os grandes destinatários são os técnicos das diversas áreas relacionadas com a floresta, o ambiente, a gestão territorial e a protecção civil.

“Desejavelmente os alunos deverão possuir formação superior”, mas Domingos Lopes garante que “a experiência profissional” dos candidatos também será tida em conta.

O grande objectivo é “responder à necessidade de formação avançada na capacitação e domínio de ferramentas no âmbito da gestão do fogo”, com ênfase nas várias determinantes e implicações do comportamento do fogo e na aquisição de conhecimento em ferramentas de ajuda à decisão. Tudo para que a cadeia da gestão do fogo, do planeamento à recuperação, se torne “mais eficiente”.

O corpo docente vai agregar “alguns dos maiores especialistas nesta matéria”. O director da pós-graduação revela que, para além de académicos da UTAD, também serão chamados a ministrar alguns módulos professores do Instituto Superior de Agronomia (ISA) de Lisboa e até “haverá uma colega da área da Psicologia”.

A formação contemplará temáticas de “notória pertinência”. Entre elas, os alunos irão aprender a identificar os principais desafios colocados à gestão do fogo; dominar conceitos meteorológicos relativos à ignição, comportamento e impactos do fogo; dominar ferramentas tecnológicas que ajudem a compreender e antecipar os riscos e comportamento dos fogos rurais; dominar ferramentas que facilitem a gestão e a articulação das actividades de protecção florestal e protecção civil; e desenvolver e reforçar competências de liderança e gestão em contexto de stress.

32% dos incêndios provocados por incendiarismo

O tema dos fogos florestais tem estado na ordem do dia. Depois de o Governo ter aprovado no Conselho de Ministros a 21 de Maio o novo regime jurídico de sapadores florestais, promulgado por Marcelo Rebelo de Sousa a 10 de Julho e publicado em Diário da República no dia 22, é agora o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que divulga as estatísticas sobre incêndios rurais no período entre 1 de Janeiro a 15 de Agosto de 2020.

A Divisão de Apoio à Gestão de Fogos Rurais/DGFR daquele Instituto registou um total de 6622 incêndios rurais, que resultaram em 36343 hectares de área ardida, entre povoamentos (16255 hectares), matos (14981 hectares) e agricultura (5107 hectares).

Comparando os valores do ano de 2020 com o histórico dos 10 anos anteriores, o ICNF assinala que se registaram “menos 44% de incêndios rurais e menos 48% de área ardida relativamente à média anual do período”.

De acordo com a mesma fonte, o ano de 2020 apresenta, até ao dia 15 de Agosto, o segundo valor mais reduzido em número de incêndios e o quinto valor mais reduzido de área ardida, desde 2010.

Na distribuição do número de incêndios rurais por classe de área ardida, o ICNF revela uma “evidência”: em 2020 os incêndios com área ardida inferior a um hectare são “os mais frequentes (87% do total de incêndios rurais)”. No que se refere a incêndios de maior dimensão, assinala-se, até à data, a ocorrência de sete incêndios com área ardida superior ou igual a 1000 hectares.

Do total de 6622 incêndios rurais verificados em 2020, 3728 foram investigados (56% do número total de incêndios - responsáveis por 41% da área total ardida). Destes, a investigação permitiu a atribuição de uma causa para 2376 incêndios (64% dos incêndios investigados - responsáveis por 36% da área total ardida).

Até à data, as causas apontadas pelo ICNF como mais frequentes em 2020 são: incendiarismo - imputáveis (32%), queimadas de sobrantes florestais ou agrícolas (16%), Queimas de amontoados de sobrantes florestais ou agrícolas (8%) e Queimadas para gestão de pasto para gado (7%).

Conjuntamente, diz o ICNF que as várias tipologias de queimadas e queimas representam 31% das causas apuradas. Os reacendimentos representam 12% do total de causas apuradas, num valor inferior face à média dos 10 anos anteriores (17%).

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