Covid-19. Regras de distanciamento estão desactualizadas, alertam investigadores

As clássicas regras de distanciamento são baseadas numa “dicotomia simplista” e devem ser reavaliadas considerando factores como o tipo de actividade, a ventilação, o uso de protecção facial, a duração da exposição e a susceptibilidade do indivíduo à infecção.

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Ana Marques Maia

As habituais regras de distanciamento físico como medida de prevenção da covid-19 baseiam-se em ciência desactualizada, defendem investigadores da Universidade de Oxford num artigo publicado esta quarta-feira no jornal médico BMJ.

De acordo com os especialistas, as regras de contenção do novo coronavírus devem reflectir melhor os vários factores que se conjugam e influenciam o risco de transmissão. “Regras que estipulam uma única distância física específica (um ou dois metros) entre as pessoas para reduzir a disseminação de covid-19 são baseadas em ciência desactualizada e experiências de vírus anteriores”, argumentam os investigadores.

Estas regras, sustentam, são baseadas numa “dicotomia simplista” que descreve a transmissão viral por gotículas grandes ou pequenas emitidas isoladamente, “sem ter em conta o ar exalado”, de acordo com Nicholas Jones, da Universidade de Oxford, e os colegas. Na realidade a transmissão é mais complexa, envolvendo “um contínuo de gotículas de diferentes tamanhos e um papel importante do ar que as carrega”, explicam os investigadores.

“As evidências sugerem que pequenas gotículas transportadas pelo ar carregadas com covid-19 podem viajar mais de dois metros impulsionadas por tosse e gritos, e podem espalhar-se até sete ou oito metros concentradas no ar exalado por uma pessoa infectada”, lê-se.

O tipo de actividade, o ambiente em que decorre, o nível de ventilação e se são usadas protecções faciais são factores a ter em conta, assim como a carga viral do emissor, a duração da exposição e a susceptibilidade de um indivíduo à infecção.

Por exemplo, nas situações de maior risco, como um bar ou uma discoteca lotados, o distanciamento físico além de dois metros e a minimização do tempo de ocupação devem ser considerados, enquanto um distanciamento menos rigoroso poderá será adequado em cenários de baixo risco.

O distanciamento físico deve ser visto como parte de uma abordagem mais ampla de saúde pública para conter a pandemia. “Deve ser usado em combinação com outras estratégias para reduzir o risco de transmissão, incluindo lavagem das mãos, limpeza regular das superfícies, equipamento de protecção e coberturas faciais quando apropriado, estratégias de higiene do ar e isolamento dos indivíduos afectados”, concluem os investigadores.

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