Deputada brasileira acusada de planear assassínio do marido com ajuda de sete dos 55 filhos

Depois de várias tentativas de envenenamento, a cantora e deputada Flordelis dos Santos deu ordens aos filhos para planearem a morte do pastor Anderson do Carmo, assassinado com 30 tiros em Junho de 2019.

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Deputada Flordelis dos Santos está acusada de cinco crimes no assassínio do seu marido Anderson do Carmo Reuters/AGENCIA BRASIL

A deputada Flordelis dos Santos de Souza, conhecida cantora de gospel no Brasil, foi acusada na segunda-feira de orquestrar o assassínio do seu marido Anderson do Carmo, morto a tiro no ano passado. Sete dos seus filhos e uma neta já foram detidos por envolvimento no crime, mas, como tem imunidade parlamentar, Flordelis continua em liberdade.

A cantora conheceu Anderson do Carmo em 1991, quando tinha 30 anos e ele 14. Na altura, adoptou-o e acabaram por casar sete anos mais tarde. Anderson do Carmo tornou-se um pastor evangélico e passou a liderar as igrejas fundadas por Flordelis, hoje conhecidas como Comunidade Evangélica Cidade do Fogo.

Anderson do Carmo foi assassinado dentro da sua própria casa, no Rio de Janeiro, em Junho de 2019, com mais de 30 tiros. Na altura, Flordelis disse que na origem do crime esteve um assalto, uma tese descartada imediatamente pela polícia.

Mais de um ano depois, o Ministério Público brasileiro concluiu que a cantora e deputada do Partido Social Democrático (PSD) ordenou o assassínio do marido e que contou com a ajuda de pelo menos sete dos 55 filhos do casal, 51 deles adoptados.

Na segunda-feira, cinco filhos e uma neta de Flordelis foram detidos, enquanto a deputada assistia à detenção de quatro deles na sua casa no Rio de Janeiro. Outros dois filhos da deputada já estão presos – Flávio, que admitiu ser o autor dos disparos logo após o crime, e Lucas, que terá arranjado a arma do crime.

Flordelis, no entanto, continua em liberdade, devido à sua imunidade parlamentar. Na terça-feira, o deputado federal Léo Motta, do Partido Social Liberal (PSL), antigo partido do Presidente Jair Bolsonaro, enviou uma carta ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a afirmar que a “parlamentar não tem condições de permanecer no cargo para o qual foi eleita”, pedindo o seu afastamento. Já o presidente do PSD, Gilberto Kassab, garantiu que “serão adoptadas as medidas estatutárias para a expulsão” da deputada.

"Separar dele não posso, ia escandalizar Deus"

A deputada e cantora foi acusada de cinco crimes – homicídio qualificado, associação criminosa, uso de documento falso, tentativa de homicídio e por mentir às autoridades. De acordo com a acusação, na origem do crime está o facto de o pastor Anderson do Carmo “manter um rigoroso controlo das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família”.

O procurador responsável pelo caso, Sérgio Lopes Pereira, revelou que em mensagens trocadas com os filhos, Flordelis falou sobre o crime: “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus.” O procurador defende que “nessa lógica torta, o assassinato escandalizaria menos”.

Nos media brasileiros, começam a ser divulgados mais pormenores sobre o bizarro crime. Escreve o G1 que a deputada deu ordens à sua filha Marzy para que contratasse um assassino capaz de levar a cabo o crime, tendo esta, segundo as autoridades, procurado no Google por termos como “assassino onde achar” e “veneno para matar pessoa que seja letal e fácil de comprar”.

Acresce que, durante vários meses, familiares de Anderson do Carmo tentaram envenená-lo – o pastor foi internado pelo menos cinco vezes com sintomas de envenenamento.

Noutra tentativa de assassínio, diz a versão brasileira do El País, um homem foi contratado para matar Anderson, mas confundiu o carro do pastor quando estava a preparar-se para cometer o crime.

No seu depoimento, continua o G1, Marzy confessou que ofereceu dez mil reais (cerca de 1500 euros) ao irmão Lucas para que este cometesse o crime, um plano que agradou a Flordelis, uma vez que o seu filho adoptivo, que tinha fugido de casa há alguns anos, integrava um grupo criminoso.

Confrontado com a acusação e com as detenções dos filhos e da neta, Flordelis continua a garantir que é inocente.

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