Uma história de amor e… tragédia, na zona Centro

O Mosteiro de Alcobaça é um daqueles locais em que estranhas emoções nos invadem quando passamos para o interior das portas.

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daniel rocha

O Mosteiro de Alcobaça ergue-se em tons dourados por entre o verde das árvores e um aglomerado de pequenos edifícios brancos. É o primeiro monumento de estilo gótico erguido em Portugal, datando a sua construção do século XII, pela Ordem de Cister. Em 2007, foi considerado uma das Sete Maravilhas de Portugal.

É aqui que repousam os restos mortais de Pedro e Inês, nos túmulos de escultura gótica feitos de calcário proveniente de Coimbra. Estes belos túmulos estão decorados com diversas cenas bíblicas e da vida de santos, como era habitual na época da sua construção. No túmulo de Pedro, contudo, podem ainda observar-se cenas do quotidiano dos dois amantes e a trágica história do assassinato de Inês.

Pedro era conhecido pelo seu temperamento violento, mas também por ser um amante fervoroso. A sua mulher era Constança, no entanto a dona e senhora do seu coração chamava-se Inês. Encontravam-se muitas vezes às escondidas nos jardins da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, mas estes encontros não eram bem vistos por ninguém, muito menos por Afonso, pai do jovem Pedro.

Quando Constança morreu durante o parto do filho Fernando, que viria a ser conhecido por o Formoso, logo Pedro se decidiu a viver conjuntamente com a amada Inês. Para Afonso, esta foi a maior afronta que algum filho e herdeiro do trono de Portugal poderia fazer. Imediatamente engendrou um plano: mandou degolar Inês e acabar com a desprezível e destrutiva relação que mantinha com o seu filho, de uma vez por todas. Mas com esta acção, Afonso foi despertar em Pedro o seu lado mais negro e este imediatamente declarou guerra ao pai.

Afonso morreu pouco depois de terminada a guerra e Pedro subiu ao trono. Não tardou a mandar trasladar o corpo de Inês para o panteão real do Mosteiro de Alcobaça e foi no encalço dos assassinos da sua amada. A lenda conta que Pedro lhes terá arrancado o coração e daí o terem apelidado de Justiceiro. Curioso é que no coração se guarda a raiva e o ódio, o amor e a saudade, a alegria da dádiva e a dor da perda.

O Mosteiro de Alcobaça é um daqueles locais em que estranhas emoções nos invadem quando passamos para o interior das portas. Sente-se, de facto, que ali repousa quem muito amou e foi feliz e quem muito sofreu pelo mesmo amor. Aliás, todo o ambiente envolvente do Mosteiro está impregnado de uma certa nostalgia romântica. Neste monumento somos impelidos a contemplar a beleza do gótico português, mas sem nunca esquecer os sentimentos de quem ali repousa e nos recebe. Há uma necessidade de manter um silêncio quase reverencial. Quando se assiste a um casamento neste local, inevitavelmente lágrimas escorrem pelo rosto, porque os anfitriões desejam o melhor para quem ali jura o seu eterno amor.

Regressemos ao exterior, para aliviar as emoções, fazendo uma ronda pelas lojas de artesanato da região e apreciando as várias peças de roupa e demais objectos feitos de chita, o tecido de algodão característico da cidade de Alcobaça. E para recarregar energias, faz parte experimentar o pampilho, doce típico de Santarém, tradicionalmente recheado de doce de ovos, amêndoa e canela. Combina muito bem com um café, num final de tarde, antes de prosseguir viagem.

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