Em Janeiro já se falava do novo coronavírus nos corredores do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto. Naquele momento, ainda só da China (hoje é muito mais do resto do mundo). Cerca de um mês e meio depois, logo a abrir o terceiro mês de 2020, entrou o primeiro infectado. A partir daí, foi em catadupa.
Nesse momento, quando a generalidade da população portuguesa começou a consciencializar-se do potencial de ameaça de uma nova doença, ainda pouco conhecida, no mesmo edifício onde exercemos as nossas funções executivas já se combatia o novo coronavírus e se implementava um conjunto de estratégias para permitir limitar ao máximo os efeitos de uma epidemia que, dali a muito pouco tempo, viria a transformar-se na pandemia de maiores proporções dos últimos cem anos.
Tal como a generalidade das pessoas, também nós levamos algum tempo a constatar a real dimensão do potencial destrutivo desta infecção e as consequências directas no nosso trabalho. A única diferença foi que estávamos a intervir num dos campos de batalha contra a doença e, por isso, quaisquer intervenções que realizássemos influenciariam forçosamente os resultados desta contenda, quer para as pessoas directamente envolvidas na luta directa contra o vírus, quer para a generalidade da população. O olhar estava posto no hospital. E nós temos um papel determinante na imagem real e na imagem percebida, para dentro e para fora das paredes desta instituição.
O que não se comunica não existe: é nesta era que vivemos. A covid-19 trouxe grandes desafios a todos os profissionais de comunicação. Não só a nós, que integramos uma instituição de saúde da linha da frente.
Nestes últimos meses – agora menos, felizmente, apesar de não sabermos o que o futuro nos reserva – assistimos a todas as plataformas de informação e comunicação preenchidas com conteúdos SARS-CoV-2 e covid-19. De forma mais ou menos directa. De forma mais ou menos responsável. De forma mais real ou fake. Mas assistimos, no universo da comunicação tradicional e digital, à implementação das diversificadas ferramentas que temos ao nosso dispor. Basta olharmos para a evolução das conferências de imprensa dos pivots da crise a nível mundial e para a forma como se comunica no Twitter.
Todos os manuais de gestão de crise e de comunicação em tempos de crise se esgotaram nas primeiras semanas. Por mais literatura que exista e por mais especialistas que nos guiem, ninguém está preparado para uma catástrofe. Seja em que área for. Mas os conceitos básicos continuam mais actuais que nunca: antecipação, agilidade, verdade e qualidade informativa. Estes são os quatro princípios de qualquer gestão comunicacional de crise.
No Centro Hospitalar Universitário de São João acrescentamos três conceitos: credibilidade, brio e abertura. Nesta fase de grande exigência e pressão, a estratégia foi comunicar, comunicar, comunicar. Abrir as portas sempre que possível, mas também nos escudamos quando outras prioridades se elevaram. Na comunicação externa foi importante jornalistas e assessores de imprensa estarem do mesmo lado da barricada. Olhar para os problemas com responsabilidade e assumindo o espírito de missão. Ivy Lee, considerado o pai das relações públicas modernas, dizia: “O público tem de ser informado”. É desta forma que olhamos para a comunicação e que a gostamos de concretizar.
Temos pais, avós, tios, primos, amigos e, não no nosso caso, filhos. Mas temos um papel fundamental no combate a esta pandemia: comunicar e informar. Com responsabilidade, credibilidade e coragem.