O futuro em debate: em defesa da Ciência e Tecnologia

Apesar da sua importância no controlo da pandemia e na prevenção de milhões de mortes, a Ciência e Tecnologia, aliada à Saúde, tem, mais do que nunca, expostas as falhas crónicas que a têm fragmentado. Como poderemos corrigir os erros do passado e assegurar um futuro de sucesso?

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Nuno Ferreira Santos

Tem sido um período absolutamente excecional para todos nós; não há dúvidas disso. Por outro lado, é interessante pensarmos como uma pandemia global acaba por expor as desigualdades e fragilidades de toda uma sociedade, pelo que tenho dúvidas se sairemos todos afetados por igual.

Tenho estado numa posição duplamente dicotómica nesta pandemia: por um lado médico, por outro cientista; por um lado triunfos, por outro falhas da Ciência e Tecnologia e Saúde no encontro com a pandemia covid-19 em Portugal.

Os triunfos são fáceis de visualizar. Pergunto: quantas vidas teríamos perdido sem a identificação do vírus, testes de diagnóstico, máscaras e medidas de Saúde Pública? Em 11 países europeus apenas as medidas de Saúde Pública evitaram pelo menos 2,8 milhões de mortes (limite inferior da estimativa).

As falhas, porém, são complexas, crónicas e, agora, mais agudizadas. Urge refletirmos, mas sobrepõe-se a necessidade premente de reestruturação e renovação. Além das medidas dirigidas à Saúde, já aqui explanadas pela Catarina Reis de Carvalho, a plataforma 100 Oportunidades, um grupo de jovens em que me integro, nomeou três medidas prioritárias para a Ciência e Tecnologia, divulgadas no documento 50 medidas para um debate intergeracional de fundo na sociedade portuguesa pós-covid-19.

Primeiramente, é tempo de fomentar a integração da Ciência e Tecnologia da União Europeia, apostando numa ciência mais colaborativa e europeísta. É tempo de união e de esforços além-fronteiras para a pandemia da COVID-19 e para a crise económica em que nos encontramos. É, neste sentido, profundamente lamentável que o financiamento proposto pelo Conselho Europeu para o Horizon 2021-2027 tenha tido um corte de 33% face ao pedido pelo Parlamento Europeu e de 14% relativamente ao valor apresentado pela Comissão Europeia em Maio de 2020, já em plena pandemia.

Não esquecer, ainda, a utilidade e pronta resposta das muito diversas áreas de conhecimento que foram envolvidas nesta pandemia: modelação epidemiológica, desenvolvimento de vacinas, engenharia de materiais, entre outras. A agora famosa vacina de Oxford só foi possível graças a trabalho prévio no vírus SARS que, na época, tinha muito pouco interesse para o mundo. Devemos esperar o inesperado num leque o mais alargado possível. Devemos combater o desconhecimento e fake news em todas as frentes.

Finalmente, é do interesse de toda a sociedade e economia o desenvolvimento de uma ciência portuguesa competitiva virada para o futuro. Temos de fomentar o investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) em Portugal. Temos de revitalizar o tecido empresarial, temos de estabelecer uma regularidade no financiamento e combater a precariedade que assola os investigadores nacionais e temos de criar um sério compromisso para o futuro, investindo uma percentagem do PIB mais perto (ou acima) da média europeia.

Como sairemos deste período? Sairemos revitalizados, determinados e de olhos no futuro, procurando amplificar os triunfos de que temos usufruído, ou continuaremos resignados a colocar pensos rápidos nas falhas que se vão alargando?

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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