A covid-19 pode causar queda de cabelo? Sim, mas não é um sintoma

Na comunidade científica, a queda de cabelo surge como um possível efeito secundário da infecção. Também se pode manifestar em pessoas que tenham sentido um maior stress devido às circunstâncias da pandemia, mesmo que não tenham estado infectadas.

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A queda de cabelo pode ser um efeito secundário da covid-19 Unsplash

O novo coronavírus continua a ser uma incógnita quando se fala em sequelas da infecção no corpo humano. Há estudos que sugerem danos no aparelho cardiovascular, renal ou neurológico, mas ainda não há certezas de nada devido ao desconhecimento dos cientistas sobre a doença que fez parar o mundo inteiro. Entre os sintomas mais comuns da presença do vírus no humano contam-se febre, congestionamento nasal ou fadiga. A queda de cabelo surge agora não como um indicador da infecção, mas sim como um efeito secundário, que pode manifestar-se tanto durante o período de infecção como após a recuperação.

O crescimento capilar passa por três fases: anágena (crescimento), catágena (“mirrar”) e telógena (queda). Grande parte deste processo encontra-se na primeira fase, sendo que a da queda pode rondar os 12%, explica João Maia Silva, coordenador de Dermatologia do Hospital CUF Descobertas, em Lisboa. O cabelo “vai crescendo ao longo de anos e, ao fim de um determinado período, recebe uma ordem. A haste do cabelo, a raiz, acaba por mirrar e deixar uma ‘semente’ por baixo que empurra o cabelo velho e dá origem a um novo”, explica.

Conhecida como eflúvio telogéno, a perda temporária de cabelo pode ter diversas causas, desde perda de peso, a cirurgias ou ao stress. Num estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Indiana, nos EUA, que envolveu mais de 1500 recuperados da covid-19, a perda de cabelo é um dos 25 efeitos (de um total de quase cem) mais experienciados.

Esta patologia (eflúvio telogéno) aumenta a queda para cerca de 50%, não apresentando consequência a longo prazo, sendo que em três meses o cabelo começa a crescer novamente. O dermatologista português esclarece que “o que ocorre é que, fruto de um stress, um traumatismo, uma anestesia, alguns medicamentos, mas principalmente por infecção grave como a covid-19, é dado um sinal ao cabelo e uma maior percentagem entra em fase de queda”.

Outras causas para a queda de cabelo, mesmo em pessoas que não têm nem tiveram a covid-19, passam por traumas físicos ou psicológicos, febres altas, perda de peso ou mudanças nos hábitos alimentares, mudanças hormonais ou mesmo predisposição genética. A queda de cabelo em pessoas infectadas com o novo coronavírus será uma consequência e não um sintoma da doença.

Ainda assim, há estudos a serem feitos em Espanha que pretendem perceber se existe uma correlação entre a calvície e o novo coronavírus, nomeadamente se “os calvos têm um maior risco de vir a ter doença mais grave [da covid-19]”, refere João Maia Silva. Um estudo em particular põe em hipótese que as pessoas com alopecia androgenética (calvície comum) têm maior probabilidade de serem internadas e de sofrer um maior impacto com o Sars-Cov-2. “Se se confirmar que a alopecia androgenética é um factor de risco para uma infecção da covid-19 mais gravosa, podemos colocar a hipótese de que terapia antiandrogénica pode reduzir os riscos de desenvolver sintomas graves na sequência da infecção da covid-19”, lê-se no resumo do estudo.

Em Portugal, João Maia Silva refere que já viu doentes que estiveram infectados com o novo coronavírus e que experienciaram queda de cabelo, mas deixa a ressalva de que não há razão para alarme, uma vez que esta não é sintoma. “O cabelo cai normalmente no Outono. Neste momento, o nosso cabelo está a começar a entrar na fase de queda, está a começar a ser empurrado pelo cabelo novo e vai cair mais ou menos em Outubro. É algo experienciado por uma grande percentagem das pessoas”, conclui.

Texto editado por Bárbara Wong

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