Doentes crónicos têm de cuidar da sua saúde agora

Neste próximo Inverno, teme-se que a procura de cuidados de saúde aumente significativamente, decorrente não só da habitual sazonalidade das infecções respiratórias causadas pelo vírus da gripe e outros agentes respiratórios, como também pelas exigências impostas pela covid-19.

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Reuters/AMMAR AWAD

A diminuição da vigilância das doenças crónicas, aliada, em parte, ao medo que se instalou na população em recorrer ao hospital e restantes serviços de saúde — particularmente os doentes idosos, com patologia múltipla crónica — acabando por fazê-lo apenas em fases já muito avançadas e descompensadas da sua doença, têm tido consequências gravosas, que se traduzem já em aumento valorizável das taxas de morbi-mortalidade de doentes não-covid nos últimos meses, de acordo com informação do Sistema Nacional de Vigilância da Mortalidade.

Estamos agora sensivelmente a dois meses do início do Outono e, não sendo expectável que surja uma vacina ou terapêutica dirigida verdadeiramente eficaz contra o SARS-CoV 2 nos meses mais próximos, a tempo do próximo Inverno, perspectiva-se que esta época habitualmente desafiante, se torne ainda mais exigente.

Neste próximo Inverno, teme-se que a procura de cuidados de saúde aumente significativamente, decorrente não só da habitual sazonalidade das infecções respiratórias causadas pelo vírus da gripe e outros agentes respiratórios, como também pelas exigências impostas pela covid-19 e antecipação de um eventual novo pico da actividade epidémica, a que acresce ainda um previsível aumento do número de complicações e agudizações de doenças crónicas cuja monitorização e acompanhamento regular necessários se tem revelado sofrível nestes primeiros meses de pandemia.

Assistimos a nível nacional, com preocupação, a uma redução acentuada da procura de médicos de Medicina Geral e Familiar e de Medicina Interna — especialidades de acompanhamento da saúde global e de doenças crónicas. A CUF, com 18 unidades de saúde de norte a sul do país, registou — de Março a Junho deste ano, em comparação com período homólogo, uma redução na ordem dos 50% e 40%, respectivamente, nas especialidades de Medicina Geral e Familiar e de Medicina Interna. Os exames de imagiologia, que permitem efectuar acompanhamento de doenças crónicas e de doentes de risco, definir diagnósticos ou estabelecer prognósticos, registaram, também, decréscimos acentuados, o mesmo se tendo verificado a nível das análises clínicas, fundamentais para monitorizar tratamentos ou estabelecer prognósticos em patologias crónicas.

Estes dados, que sugerem que a população ainda não iniciou a preparação da sua saúde para o Inverno exigente que se aproxima, incitam-nos a assumir que preparar e planear a saúde ainda neste período de Verão é uma prioridade individual e uma preocupação que deve ser de toda a sociedade.

Urge pois, implementar rapidamente, ainda durante o Verão, medidas preventivas e de mitigação do impacto negativo deste Inverno para a população. Teremos de conseguir delinear estratégias que permitam manter, em paralelo, o combate à covid-19 e a assistência de qualidade às doenças que se mantêm muito presentes no quotidiano dos portugueses. As doenças do aparelho circulatório (hipertensão, insuficiência cardíaca, as arritmias, o acidente vascular cerebral), a diabetes, o cancro e as doenças do aparelho respiratório continuam a constituir as principais causas de morte em Portugal e são as que acarretam mais incapacidade e absentismo.

Numa altura em que preparamos um Inverno desafiante a vários níveis, é tempo de lembrar que é agora que deve preparar a sua saúde através de rotinas de prevenção, diagnóstico e tratamento que, ao longo do tempo, nos permitiram conquistar anos de vida saudável, com significativo aumento da esperança média de vida e que são também aquelas que hoje podem ajudar a salvar vidas e minimizar o impacto de meses que se prevêem difíceis.

Neste contexto, torna-se imperativo que procure o seu médico para efectuar a vigilância necessária da sua saúde, e para prevenir ou acompanhar patologias, que tardiamente diagnosticadas ou sem acompanhamento podem ser irreversíveis ou trazer-lhe complicações maiores. É seguro ir e frequentar os serviços de saúde que seguem actualmente protocolos e circuitos rigorosos que garantem a segurança dos doentes e profissionais de saúde, pelo que por receio de contágio não deve adiar a deslocação.

Temos sensivelmente dois meses para minimizar o impacto de um Inverno difícil. O tempo de cuidar da sua saúde, para evitar maiores preocupações no Inverno, é agora!

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