Covid-19: França pressiona Reino Unido impondo quarentena a viajantes ingleses

Governo reconheceu que a capital francesa sofre uma “situação preocupante” por não haver turistas de outros continentes. Secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus justificou a adopção de medidas para com o Reino Unido com a necessidade de ter peso nas negociações. Noruega também vai colocar o Reino Unido na “lista vermelha”.

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Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, França REUTERS

As autoridades francesas querem que o Reino Unido suspenda a quarentena imposta no sábado aos viajantes com origem em França, tendo adoptado medidas semelhantes para mostrar que os britânicos também têm interesse em manter a livre circulação. “Não podemos ficar impassíveis perante decisões unilaterais”, disse o secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus, Jean-Baptiste Lemoyne, também responsável pelo turismo, em entrevista ao canal BFMTV.

Além do argumento de “coerência”, já que “uma fronteira tem de ser administrada da mesma forma dos dois lados”, Lemoyne justificou a adopção de medidas recíprocas com a necessidade de ter peso nas negociações com o Governo britânico. “Queremos pôr fim a esses obstáculos à liberdade de movimento o mais rápido possível”, mas, para isso, “as autoridades britânicas têm de ter interesse em tomar essa medida”, disse.

O governante francês lembrou que, por norma, dez milhões de britânicos viajam anualmente para França apenas por motivos turísticos, pelo que a quarentena de 14 dias que Londres impõe a todos os que chegam de França (como de outros países europeus, como Portugal, Espanha, Bélgica ou Países Baixos) – para combater o aumento de infecções da covid-19 está a causar prejuízos significativos ao sector do turismo francês. Para compensar, o Governo vai tentar prolongar a temporada turística, quer para os franceses quer para estrangeiros.

E a França não será o único país a tomar este tipo de decisão, ainda que seja o único a fazê-lo por uma questão de reciprocidade. Segundo avança esta terça-feira o jornal norueguês The Local, o Instituto Norueguês de Saúde Pública já disse que vai recomendar ao governo do país desaconselhar viagens a uma lista de novos países ainda esta semana, lista onde se inclui o Reino Unido, a Irlanda, Grécia e alguns territórios da Dinamarca, como Copenhaga.

Os visitantes oriundos da Noruega não têm de fazer uma quarentena obrigatória na chegada ao Reino Unido, mas o país escandinavo vai aplicar a regra dos 20 casos de infecção por cada 100 mil habitantes, à qual o Reino Unido não obedece neste momento, mas por muito pouco. De acordo com um comunicado do instituto norueguês desta terça-feira, o Reino Unido tem 20,7 infecções por 100 mil residentes, a Irlanda 22,3 e a Grécia 22,5, o que coloca os três países acima dos 20 casos por cada 100 mil habitantes.

Capital francesa com poucos turistas

Lemoyne reconheceu que a capital francesa e a sua região sofrem uma “situação particularmente preocupante” pelo facto de este ano não haver turistas de outros continentes e, em geral, poucos visitantes estrangeiros. Por isso, as esperanças de recuperação nos próximos meses estão apontadas a eventos como feiras e congressos.

No resto do país, a situação é desigual, mas, de acordo com o secretário de Estado, “o mês de Julho foi bom” e o Agosto também deverá ser, já que houve um elevado nível de ocupação dos alojamentos rurais e parques de campismo. Ainda assim, estima-se para este mês uma queda de cerca de 20% na ocupação destes locais em relação a 2019.

O secretário de Estado também se referiu ao dispositivo especial que França criou para juntar, no seu território, os casais que ficaram separados durante semanas ou meses devido ao encerramento de fronteiras, tendo assegurado que os primeiros encontros deverão acontecer nos próximos dias.

Jean-Baptiste Lemoyne salientou que o procedimento foi “simplificado ao máximo” para que os pedidos e a apresentação de documentos possam ser feitos online e a avaliação não demore mais de oito a dez dias.

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