Líbano decreta confinamento de duas semanas devido ao aumento da covid-19 após explosão

Ministro da Saúde diz que todas as camas de cuidados intensivos estão ocupadas. “O perigo real é a transmissão na sociedade”, disse o governante.

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Ted Chaiban, director regional da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África, verifica os danos da explosão no hospital Karantina em Beirute Reuters/MOHAMED AZAKIR

O Líbano vai entrar num período de confinamento depois de um aumento de casos de infecção pelo novo coronavírus, anunciou o ministro da Saúde. “Declaramos um estado de alerta geral e precisamos de uma decisão corajosa para fechar durante duas semanas”, disse Hamad Hassan à rádio Voz do Líbano.

A decisão segue-se ao registo de um número recorde de 439 novas infecções e seis mortes devido a covid-19 nas 24 horas anteriores.

O país estava a registar um aumento de infecções quando aconteceu a explosão no porto de Beirute que destruiu o porto e deixou parte da cidade com casas inabitáveis. A ausência de uma resposta das autoridades levou a que a sociedade civil se organizasse para a limpeza e inventário de danos, enquanto se intensificavam, por outro lado, protestos contra a incúria da classe política e dos dirigentes, que permitiram que o país caísse numa gravíssima crise, com a moeda a desvalorizar 60%, e ainda deixaram que uma carga perigosa fosse mantida mais de cinco anos no porto. 

Entre os edifícios que sofreram danos com a explosão de 4 de Agosto estavam vários hospitais, que vinham já a cortar despesas e pessoal com a crise, apesar de terem mais necessidade por causa da covid-19. Os seis mil feridos na sequência da explosão deixaram o sistema assoberbado.

Outros 55 centros médicos de Beirute ficaram também impossibilitados de funcionar, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Estamos todos a enfrentar um desafio real e os números que foram registados no último período são chocantes”, disse Hassan, que é membro de um Governo que, apesar de demissionário, se mantém como interino até que haja um novo primeiro-ministro. O ministro argumentou que com as camas de cuidados intensivos nos hospitais públicos e privados agora todas ocupadas por doentes em estado grave, “são necessárias medidas decisivas”.

Hassan explicou à agência Reuters que o aeroporto do país não será, por agora, encerrado, já que a razão para o aumento dos casos não são chegadas de pessoas de fora. “O perigo real é a transmissão dentro da sociedade”, disse. “Todos têm de estar em alerta máximo e de ter as medidas de prevenção mais estritas”, acrescentou.

Na explosão morreram pelo menos 178 pessoas, segundo os números oficiais, e com o enorme número de desalojados o risco de transmissão do coronavírus aumentou, segundo a OMS.

Estas decisões acontecem na véspera de se conhecer o veredicto do Tribunal Especial para Líbano que julga o assassínio do ex-primeiro-ministro Rafiq Hariri, esperado para esta terça-feira, que tem o potencial de criar ainda maior instabilidade no pais, pois tudo aponta para que os assassinos sejam do Hezbollah - um partido e uma milícia xiita.

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