Mark Kozelek acusado de assédio sexual

Três mulheres denunciaram à Pitchfork comportamentos do líder dos projectos Red House Painters e Sun Kil Moon. Uma das situações terá ocorrido em Portugal.

Foto
Mark Kozelek em 2004 Wendy Redfern/Redferns

O músico de 53 anos Mark Kozelek, conhecido pelo seu trabalho com o grupo de indie rock Red House Painters e o projecto Sun Kil Moon, é acusado de assédio e abuso sexual por três mulheres. De acordo com uma investigação da publicação norte-americana Pitchfork feita a partir de denúncias recebidas nos últimos meses, o artista terá exposto os seus órgãos genitais sem consentimento, forçado uma mulher a tocar no seu pénis e pressionado uma jovem de 19 anos a ter relações sexuais.

Sarah Catherine Golden, uma das delatoras, diz que conheceu Kozelek no Porto em Novembro de 2017, antes de uma apresentação dos Sun Kil Moon em Espinho. Segundo o seu testemunho, o cantautor ter-se-á oferecido para colocar a mulher de 37 anos na lista de convidados especiais do concerto, onde terá repetidamente frisado que esperava conseguir vê-la mais tarde. Sarah refere que se encontrou com Kozelek no seu quarto de hotel depois da actuação e que recusou um convite para ali passar a noite. Depois da rejeição, o artista terá mudado “completamente” de comportamento: de acordo com o relato, Kozelek ter-se-á masturbado à frente da mulher, apalpando-a, puxando-lhe as roupas e obrigando-a a colocar as mãos sobre o seu pénis.

A música de 13 minutos Soap for joyful hands, lançada pelos Sun Kil Moon em 2018 no álbum This Is My Dinner, narra minuciosamente, da perspectiva do cantautor, a sua passagem por Espinho e o encontro com Sarah Catherine Golden (“After the show last night in Espinho, I met a woman who asked, ‘Mark, besides music, what are your other passions?’/ I said, ‘I'm fifty years old, baby, I find laying on the couch very relaxing/ And I also enjoy reading books with my new reading glasses/ And I enjoy being 50 and not suffering from pancreatic cancer/ And I enjoyed waking up after being anesthetized from a colonoscopy and finding out I didn’t have colon cancer”, observa na canção). Sarah insiste, ainda assim, que a faixa contém várias imprecisões e descrições erradas de “detalhes-chave” da história.

A Pitchfork também divulgou o testemunho de uma jovem que tinha 19 anos quando conheceu pessoalmente o artista em 2014, na cidade de Raleigh, capital do estado americano da Carolina do Norte. Fã de Kozelek, Andrea (nome falso da delatora, que preferiu manter o anonimato) estava na fila da frente de um concerto seu no Hopscotch Music Festival quando o artista disse: “O que é que  uma miúda linda como tu está a fazer ao lado de uma cadeira vazia?”. A mãe da jovem conta que esta manteve contacto com Kozelek durante algum tempo. “Ela estava prestes a começar uma licenciatura em Cinema e Audiovisual e ele tinha um background na indústria cinematográfica. Acho que ela viu aquilo como uma coisa entusiasmante. Era uma pessoa que ela admirava. E ela estava a entrar numa área onde ter contactos e esse género de coisas ajudava um bocado.”

Andrea sustenta que, na madrugada da actuação, o músico deu-lhe o seu número de telefone e convidou-a para o seu quarto de hotel. “Eu entrei inocentemente a pensar: ‘Que fixe, vou conversar com o Mark’”, sugere. Segundo a acusação, Kozelek terá tomado banho e tirado a toalha, “saltando para cima” da jovem sem consentimento. “Acho que deu para ver que congelei completamente, porque no fim ele perguntou se eu estava OK. Como estava presa no quarto com ele, não tive coragem de dizer que não, que aquilo não era OK e que não era aquilo que eu queria estar ali a fazer”, relata. “Tive muito medo de dizer ‘não’. Ele concentrou-se imenso na minha idade. Estava sempre a pedir-me para dizer como era velho e a chamar-se ‘papá’.”

A Pitchfork – que ouviu ainda uma terceira delatora, uma artista que terá conhecido Kozelek em 2014 num festival e que também terá sido alvo de assédio sexual – aponta no artigo, compondo o historial de violência e “misoginia” do antigo líder dos Red House Painters, que em 2015 este falou da jornalista Laura Snapes, do britânico The Guardian, como uma “cabra” que “completamente” queria ter sexo com ele. Na faixa War on Drugs: suck my cock, editada pelos Sun Kil Moon em 2014, o músico menciona também a jornalista Alison Hussey, que escreveu uma crítica negativa do concerto de Kozelek na edição desse ano do Hopscotch Music Festival (“Someone got offended and wrote a piece of crap/ some spoiled bitch, rich kid, blogger brat”).

Segundo a Pitchfork, Mark Kozelek terá ignorado várias tentativas de contacto por parte da publicação norte-americana para se pronunciar sobre as acusações. Entretanto, o The Guardian assinalou esta segunda-feira que foi cancelada a digressão britânica dos Sun Kil Moon, que passariam pelo Reino Unido entre Novembro deste ano e Fevereiro de 2021.

Sugerir correcção