Jerónimo está aí para as curvas – como ele diria

No PCP estamos a três meses do congresso e, enquanto todos os candidatos a líder do passado tiveram a sua “rodagem” prévia à eleição, desta vez não consta nada.

O PCP realiza o seu congresso em Novembro. Desta vez, estava na agenda a substituição de Jerónimo de Sousa. Faltam três meses e pouco ou nada se sabe sobre o tema candente: quem vai substituir Jerónimo de Sousa? Jerónimo vai ser — de facto — substituído?

A avaliar pelas declarações do próprio secretário-geral, é melhor “apostar numa tripla”. E isto que Jerónimo diz vale pelo que ele não diz: o carismático secretário-geral sente-se capaz de continuar a liderar o partido. Perante esta situação, vai o PCP afrontar Jerónimo e eleger outro dirigente? A avaliar pelo que se passou há quatro anos, não.

O que disse Jerónimo agora abre obviamente a porta para a sua manutenção no cargo? Na entrevista que deu ao programa Hora da Verdade, uma parceria PÚBLICO-Renascença, o secretário-geral, quando interrogado sobre a sua força física, pesem ou não — parece que não — os 72 anos, foi claro: “De força anímica, de força física, ao contrário do que muita gente afirma, estou bem.” Jerónimo reconhece que “muita gente”, mesmo dentro do seu próprio partido, diz que não, mas parece disposto a enfrentá-los, embora, como o secretário-geral reconhece e ditam as regras, quem mande seja o partido. Mas ele também tem uma palavra a dizer. “Em relação ao futuro, o partido o dirá, com a minha opinião, obviamente.”

Mais deliciosa é a parte da entrevista em que Jerónimo manda apostar numa “tripla”. Ou seja, desengane-se quem está já a apostar na sucessão. Há três hipóteses, “sai, fica ou fica mais um bocadinho” — Jerónimo até propõe esta alternativa entre sair e ficar, que é “ficar mais um bocadinho”, como possível solução intermédia. Estamos a três meses do Congresso e, enquanto todos os candidatos a líder do passado tiveram a sua “rodagem” prévia à eleição, desta vez não consta nada.

Em Março de 2019, numa entrevista dada à Lusa, o mood do secretário-geral comunista era outro. “Falava da lei da vida” e em ter “outras responsabilidades” no partido sem “calçar as pantufas”. Visivelmente, culpa da pandemia ou não, a situação mudou. Teremos Jerónimo nas próximas batalhas, e a negociar a ressurreição da “geringonça” que Costa agora voltou a querer.

É provável que se repita o que se passou há quatro anos: alguns dirigentes queriam substituir Jerónimo, mas ele não quis e foi à guerra. À Renascença chegou a dizer: “Os amigos do partido e muita gente mesmo que não é do meu partido consideram que eu devia continuar.” A verdade é que ganhou a guerra, o que provavelmente acontecerá outra vez em Novembro e fará de Jerónimo de Sousa um secretário-geral tão insubstituível como Álvaro Cunhal.

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