Kremlin diz que “problemas” da Bielorrússia “vão ser resolvidos em breve”

Presidente Lukashenko telefonou a Putin, depois de uma semana de intensos protestos contra a sua governação. Milhares de pessoas homenagearam manifestante morto num protesto. Já outra manifestação convocada para este domingo.

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Máscara de Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em Minsk ANATOLY MALTSEV/EPA

Milhares de pessoas participaram este sábado no funeral do manifestante morto nos protestos que há uma semana têm a Bielorrússia mergulhada na mais grave crise política dos últimos anos, abalando a governação do Presidente Alexander Lukashenko. O chefe de Estado bielorrusso pediu este sábado ajuda ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, e o Kremlin afirmou que os problemas no país vizinho “serão resolvidos em breve”. 

Foi um mar de gente o que se viu este sábado em Minsk, no local onde Alexander Taraikovski, de 34 anos, morreu no decurso de um protesto contra os resultados das eleições presidenciais, consideradas fraudulentas. Milhares de pessoas deixaram flores, bandeiras e velas em sua memória e gritaram palavras de ordem contra o Presidente da Bielorrússia, em mais um sinal de que a contestação não parece estar a diminuir. 

As autoridades detiveram quase sete mil pessoas durante os protestos desta semana e, diz a imprensa internacional, têm usado violência indiscriminada contra os manifestantes, inclusive contra os detidos, que mostram sinais no corpo de espancamentos e tortura. A morte de Taraikovski está por isso a ser vista como um símbolo das consequências da repressão do Governo de Lukashenko, dando força aos protestos. 

Protestos que Lukashenko vê com preocupação. O Presidente bielorrusso telefonou este sábado a Putin para lhe dizer que os protestos “deixaram de ser apenas uma ameaça para a Bielorrússia” e se tornaram uma ameaça para toda a região, pedindo ajuda para enfrentar a crise política, apesar antes ter afirmado não precisar da ajuda de Governos estrangeiros. Por seu lado, o Kremlin anunciou em comunicado que os problemas no país vizinho serão resolvidos em breve. 

“Ambos os lados expressaram confiança de que todos os problemas que surgiram serão resolvidos em breve”, lê-se no comunicado do Kremlin, citado pela Reuters. “Estes problemas não devem ser explorados por forças destruidores que procuram prejudicar a cooperação mútua benéfica entre os dois países”. 

Os apelos a uma intervenção armada russa na Bielorrússia parecem ganhar força. Uma das vozes a pedir a invasão foi a de Margarita Simonyan, directora da Russia Today, próxima do Kremlin. “Chegou a hora das ‘pessoas educadas’ restaurarem a ordem como puderem”, escreveu no Twitter na sexta-feira. O termo “pessoas educadas” e “pequenos homens verdes” são usados nas referências aos militares russos que participam na guerra na Ucrânia desde 2014.

Entretanto, numa tentativa de pressionar Lukashenko a encontrar uma solução política para a crise, os primeiros-ministros de três Estados do Báltico (Letónia, Lituânia e Estónia) emitiram um comunicado conjunto a “expressar profunda preocupação pela violenta repressão” das manifestações e pela “repressão política da oposição pelas autoridades”. Foram acusados por Lukashenko de se intrometerem nos assuntos internos da Bielorrússia. 

Entretanto, a candidata da oposição, Svetlana Tikhanouskaia, continua a insistir que ganhou as eleições presidenciais, pois nos círculos eleitorais onde os votos foram bem contados recebeu um apoio na ordem dos 60 a 70%, diz a BBC. Mas a Comissão Central de Eleições não recua na atribuição da vitória a Lukashenko, dando-lhe 80,1% dos votos. 

Por agora, o futuro decide-se nas ruas de Minsk e Tikhanouskaia, que defendeu mais uma vez a recontagem dos novos das eleições Presidenciais do passado domingo, voltou a incentivar os protestos, apelando a mais manifestações e ao aumento da pressão popular sobre o regime de Lukashenko, que mostra sinais de fragilidade. Este domingo há nova manifestação marcada.

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