Administração Trump acusa Universidade de Yale de discriminar brancos e asiáticos

Departamento de Justiça admite avançar com processo judicial caso Yale não mude procedimentos. Presidente da universidade diz que acusação é “infundada” e reitera o compromisso na promoção da diversidade.

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Estudantes no campus da Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut Reuters/Shannon Stapleton

A Administração Trump acusou a Universidade de Yale de discriminar pessoas brancas e de origem asiática no processo de selecção dos candidatos, violando a lei dos direitos civis. A histórica universidade, localizada em New Haven, no Connecticut, nega “categoricamente” as acusações.

A acusação do Departamento de Justiça norte-americano surge após dois anos de investigação, iniciada após uma queixa de uma associação de americanos de origem asiática. “Não há uma forma agradável de discriminação”, afirmou Eric Dreiband, procurador-geral adjunto. “Dividir ilegalmente os americanos em blocos raciais e étnicos promove estereótipos, amargura e divisão”, acrescentou.

Em causa estão medidas de acção afirmativa utilizadas para aumentar a diversidade na universidade, promovendo mais candidatos afro-americanos e hispânicos. 

Segundo o New York Times, que teve acesso ao documento com os resultados da investigação, Dreiband afirma que existem provas de que Yale está a admitir proporções semelhantes de cada grupo étnico ano após ano e que desde a década de 1970 que não faz um esforço para encontrar outras alternativas que promovam a diversidade. “A nossa investigação indica que os objectivos de diversidade de Yale parecem ser vagos, ilusórios e amorfos”, afirmou o procurador-geral adjunto.

Apesar de reconhecer que a questão étnica possa ser tida em conta no processo de selecção de candidatos, o Departamento de Justiça diz que, “em Yale, a utilização da raça é tudo menos limitada”. Por isso, ameaça avançar com um processo judicial caso a universidade não tome “medidas correctivas”.

“A alegação do Departamento [de Justiça] é infundada”, respondeu Peter Salovey, presidente da Universidade de Yale, que faz parte da Ivy League, um grupo formado por oito das universidades mais prestigiadas do país. “Neste momento único da nossa história, quando está a ser dada tenta atenção às questões raciais, Yale não hesitará no seu compromisso de educar um corpo de estudantes cuja diversidade é a sua marca de excelência”, afirmou Salovey ao New York Times.

Segundo os números da instituição, a Universidade Yale analisa mais de 35 mil candidaturas por ano e a questão étnico-racial é apenas uma entre centenas de critérios. No último Outono, 26% dos estudantes da universidade eram americanos de origem asiática.

Vários grupos conservadores nos Estados Unidos, ao longo dos anos, têm manifestado a sua oposição a medidas de acção afirmativa, uma ferramenta que ganhou importância após o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos na década de 1960, para promover a diversidade e justiça social. No entanto, vários estados têm proibido esse tipo de políticas nas universidades públicas.

A acusação da Administração Trump contra Yale surge a um mês de ser conhecido um recurso que deu razão à Universidade de Harvard – também integrante da Ivy League – após uma queixa apresentada em 2014 por um grupo de americanos de origem asiática e que chegou aos tribunais em 2018.

As denúncias, na altura, foram semelhantes às apresentadas contra Yale: a universidade estaria a utilizar um sistema ilegal para favorecer candidatos negros e hispânicos à custa de asiáticos e brancos.

No ano passado, um juiz federal em Boston deu razão à Universidade de Harvard, reiterando que as medidas de acção afirmativa da universidade eram legítimas. O Departamento de Justiça recorreu e a decisão deverá ser conhecida no próximo mês. Em última instância, o caso pode chegar ao Supremo Tribunal.

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