Queda de quase 40% nas exportações afundou economia no segundo trimestre

INE faz revisão ligeira na estimativa do PIB, mas confirma queda recorde da economia no segundo trimestre, com contributo muito forte tanto das exportações como da procura interna

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rui gaudencio

Uma queda a pique das exportações e uma diminuição nunca vista da procura interna foram as causas da queda recorde da economia portuguesa durante o segundo trimestre deste ano que foi confirmada esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística.

Depois de, na primeira estimativa apresentada há quinze dias, o INE ter apontado já para uma variação negativa muito acentuada da economia portuguesa no segundo trimestre (com uma queda do PIB em cadeia de 14,1% e uma diminuição homóloga de 16,5%), agora na segunda estimativa para as contas nacionais, a autoridade estatística apresenta valores menos drásticos, mas apenas ligeiramente. A variação negativa do PIB em cadeia agora estimada é de 13,9% e a variação homóloga de 16,3%, isto é, 0,2 pontos percentuais menos negativos do que o inicialmente calculado. Estes novos valores são ainda uma estimativa que pode vir a ser novamente corrigida dentro de algumas semanas, quando o INE apresentar valores para o PIB mais definitivos.

Esta sexta-feira, contudo, ao contrário do que aconteceu há quinze dias, o INE avança já com algumas indicações sobre o que aconteceu às diversas componentes do PIB durante o segundo trimestre, aquele em que a pandemia produziu os efeitos mais drásticos na actividade económica.

Nas exportações, a diminuição registada aproximou-se dos 40%. Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, a variação negativa foi de 36,2%, enquanto a queda face ao período homólogo do ano anterior atingiu os 39,6%. O facto de a generalidade das economias do mundo terem também registado uma contracção da actividade, e a travagem brusca na chegada de turistas ao país, justificam este resultado.

As importações também caíram, mas menos. Em cadeia, a variação negativa foi de 28%, enquanto em termos homólogos situou-se em 29,7%.

Do lado da procura interna, o contributo para a queda recorde da economia também foi muito significativo. O INE revela que a procura interna (que agrega o consumo privado, o consumo público e o investimento) caiu 10,6% face ao trimestre anterior e 11,9% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.

O resultado deste colapso dos diversos indicadores de actividade foi, no total, o pior desempenho trimestral da economia portuguesa de que há registo.

Entre as maiores quedas na Europa

Este resultado histórico negativo é comum à generalidade dos países europeus. Ainda assim, é evidente que Portugal é um dos países da zona euro que mais está a sofrer com os impactos da pandemia na actividade económica.

De acordo com o Eurostat, que também esta sexta-feira apresentou uma nova estimativa para os valores do PIB da maior parte dos países da UE, a economia da zona euro registou no segundo trimestre uma quebra em cadeia de 12,1% (contra 13,9% em Portugal) e uma diminuição em termos homólogos de 15% (contra 16,3%) em Portugal).

Portugal está incluído entre os países com quedas mais acentuadas no produto, um grupo que tem como característica comum, mais do que a incidência da pandemia, o peso muito significativo que o sector do turismo (incluindo restauração) tem na economia.

Entre os 13 países da zona euro com dados disponíveis, aquele que registou uma queda do PIB em cadeia mais forte no segundo trimestre foi a Espanha, com uma contracção de 18,5%. A seguir surge logo Portugal com a sua variação de 13,9% face ao trimestre imediatamente anterior. França, com uma diminuição de 13,8%, e Itália com 12,4%, surgem a seguir.

Em termos homólogos – o que leva em conta aquilo que aconteceu também antes da crise e já no primeiro trimestre do ano – para além da Espanha, também a Itália e a França superam Portugal pela negativa. Em Espanha, a variação homóloga do PIB atinge os 22,1%, em França os 19% e em Itália os 17,3%.

A maior economia da zona euro, a Alemanha, registou no segundo trimestre uma variação em cadeia do PIB de 10,1% e uma variação homóloga de 11,7%.

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