Moçambique: jihadistas capturam porto de Mocímboa da Praia

Porto da província de Cabo Delgado estava a ser atacado desde 5 de Agosto, depois de diversas tentativas de invasão nos últimos meses. Há vários mortos.

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Deslocados em fuga da província de Cabo Delgado EPA/RICARDO FRANCO

Grupos armados jihadistas ocuparam o porto de Mocímboa da Praia, em Moçambique, após vários dias de confrontos com os soldados moçambicanos que guardavam aquele local estratégico na província de Cabo Delgado, onde decorre um dos maiores investimentos em África, um projecto de exploração de gás natural liderado pela Total

A invasão foi confirmada pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS). “O porto de Mocímboa da Praia foi capturado pelos terroristas durante a madrugada [de quarta-feira]”, noticiou o site Moz24Horas, enquanto fonte militar disse à AFP que as instalações portuárias daquela vila “caíram”.

O porto de Mocímboa da Praia fica localizado a menos de 80km da península de Afungi, no distrito de Palma, onde está em curso um projecto de implantação de uma fábrica de liquefacção de gás natural.

“Há vários colegas nossos da Marinha que morreram”, acrescentou uma fonte do Exército moçambicano à Lusa, sem que tenha sido divulgado o número total de vítimas.

Após o ataque, os jihadistas divulgaram nos seus canais de comunicação imagens de elementos das FDS mortos, bem como armas e munições capturadas. Segundo uma fonte militar ouvida pela emissora Voz da América (VOA), mercenários do grupo de segurança sul-africano Dyck Advisor, que têm apoiado o Governo moçambicano no combate aos jihadistas, partiram de Pemba para tentar intervir, mas não chegaram a tempo.

Nos últimos meses, os confrontos entre militares moçambicanos e grupos armados jihadistas têm sido frequentes. No final de Junho, homens armados mataram oito trabalhadores de uma empresa de construção privada que trabalhava para a Total no seu projecto multimilionário de gás natural na província de Cabo Delgado.

A 23 de Março, numa acção reivindicada pelos jihadistas, Mocímboa da Praia foi invadida e ocupada durante um dia, levando à saída em massa dos habitantes da vila portuária.

Segundo uma fonte local ouvida pela Lusa, a vila está praticamente abandonada, enquanto a população continua a fugir das aldeias e as linhas de comunicação foram interrompidas.

“Ao tomarem Mocímboa da Praia, dizem algumas testemunhas, a cidade tornou-se um bastião dos terroristas, ou seja, parece um Estado dentro de um outro Estado”, afirma Estácio Valói, jornalista no local, ouvido pela Deutsche Welle, que classifica a situação como “preocupante e grave”.

Na terça-feira, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, garantiu, num encontro virtual com o presidente do Banco Mundial, David Malpass, que o projecto de exploração de gás natural em Palma não está ameaçado e que as “FDS estão no terreno a tentar conter a expansão das acções terroristas em toda a província de Cabo Delgado e no resto do país”.

Desde Outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, tem estado sob ataque de grupos terrorista ligados ao Daesh. Há registo de mais de mil mortos causados pela ofensiva jihadista e mais de 250 mil deslocados – 10% da população da província ​ segundo números do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, em inglês).

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