Juventude: dos planos de fuga ao planeamento estratégico

O Dia Internacional da Juventude tem sido, e bem, aproveitado para chamar a atenção para o desemprego jovem, dificuldade de acesso à habitação pelos jovens, ensino superior, empreendedorismo, sustentabilidade. Mas neste dia talvez possa ser um bom exercício olhar para os jovens de amanhã.

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Celebramos a 12 de Agosto o Dia Internacional da Juventude. Criado por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1999, surgiu de uma Recomendação da Conferência Mundial dos Ministros Responsáveis pela Juventude que decorreu em Lisboa, entre 8 e 12 de Agosto de 1998.

Tem sido, e bem, aproveitado para chamar a atenção para o desemprego jovem, dificuldade de acesso à habitação pelos jovens, ensino superior, empreendedorismo, sustentabilidade. Mas neste dia talvez possa ser um bom exercício olhar para os jovens de amanhã.

Estamos mais habituados a reagir do que a planear, a procurar soluções para os problemas do que a evitar os problemas antes de acontecerem, a planos de fuga do que a planeamento estratégico. É, no entanto, possível fazer diferente. Muito. Temos informação e estudos para agir em tempo, e capacidade para que o sucesso aconteça para lá das reacções.

Deixo apenas um exemplo como ponto de partida: o Health Behaviour in School-aged Children, da Organizção Mundial de Saúde (OMS), que estuda a cada quatro anos os comportamentos e a saúde dos adolescentes nos seus contextos de vida. O último inquérito foi feito em 2018 a alunos de 11, 13 e 15 anos, em 45 países. Em Portugal, foram consideradas respostas de 5839 jovens. Se nos focarmos com especial atenção nos dados da realidade portuguesa, compreendemos facilmente três conclusões importantes:

  1. Os adolescentes portugueses estão entre os que se sentem mais pressionados pela escola e pelos trabalhos. Sobretudo as raparigas. E esse sentimento piorou. Em Portugal, há menos jovens a dizer que gostam da escola do que noutros países.
  2. Aos 11 anos, quase 30% dos adolescentes portugueses sofrem de excesso de peso ou obesidade. Olhando para os jovens de 11 anos, somos o 7.º país com piores resultados, entre os 45 deste estudo.
  3. Dificuldades em adormecer fazem parte do quotidiano de 30% das raparigas de 15 anos. E o relatório da OMS nota que entre 2014 e 2018 há um aumento dos sintomas de nervosismo, tanto para os rapazes como para as raparigas.

Existem mais dados preocupantes que podem ser conhecidos no estudo. E agora? É fácil perceber que alguém que frequentemente se sente nervoso, tem hábitos de vida pouco saudáveis, sente dificuldades em gerir os seus próprios erros e falhas, entrará mais facilmente num ciclo vicioso com maiores probabilidades de enfrentar depressão, ansiedade e comportamentos aditivos.

Este estudo mostra que não são apenas alguns, mas uma parte assustadora dos jovens, do futuro (que é já presente) deste país. A mudança que evita esse futuro joga-se agora. É possível! E todos temos responsabilidades neste desafio.

Encontro três frentes fundamentais de trabalho:

  1. Hábitos de vida saudáveis: Urge priorizar a educação para os hábitos de vida saudável e criar redes cooperantes mais eficazes de sinalização de casos que, por diversas razões, muitas vezes económicas, não conseguem que os adolescentes tenham esses hábitos. O combate aos consumos aditivos é outra frente importante desta batalha. É ainda urgente a criação de estratégias e mecanismos que trabalhem mais e melhor a saúde mental e, em simultâneo, permitam eliminar os preconceitos que envolvem este tema e que, tantas vezes, são o entrave maior ao tratamento.
  2. Presença online e autoconceito: A utilização de redes sociais (cada vez mais presente) e os efeitos negativos que daí advêm ou podem advir continuam a ser preocupantes, sobretudo nas raparigas. Ao mesmo tempo, a imagem que os adolescentes têm de si próprios é débil, de novo com maior intensidade nas raparigas. Já vem tarde um plano concertado que, para além de iniciativas de circunstância, trabalhe a sério e de forma transversal na sociedade esta questão.
  3. Pressão para não falhar – a síndrome do “filho perfeito”: É preciso devolver à sociedade a ideia do erro enquanto processo de aprendizagem, da falha como elemento enriquecedor de um processo, sem desculpabilizar ou desresponsabilizar, mas demonstrando, pela prática, que existem caminhos alternativos — e nunca perfeitos — para o sucesso e para a felicidade.

Geralmente, é mais bem compreendido o investimento que resolve um problema do que o investimento que o previne. O que, na espuma dos dias, dá pouca margem a quem tem de tomar as decisões. Mas a coragem é urgente. É possível fazer diferente, trabalhar agora para que no médio/longo prazo os jovens sejam mais saudáveis para vencer os desafios, e para ter comunidades mais resilientes, resolvendo outros problemas porque fomos capazes de evitar estes, preparando antes de prevenir. Talvez o Dia Internacional da Juventude possa ser esse primeiro passo.

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