Associação avança com acção popular contra aterro de Sobrado, Valongo

Habitantes de Sobrado juntaram-se em Vigília à porta da Comissão de Coordenação da Região Norte, no Porto. Vão pedir ao tribunal que considere nulas as licenças daquele equipamento.

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Associação não desiste de tentar fechar o aterro de Valongo LUSA/JOsé COELHO

A Jornada Principal, que se tem manifestado contra o aterro de Sobrado, Valongo, vai submeter ao tribunal uma acção popular a pedir a nulidade das licenças do equipamento, adiantaram esta quarta-feira os porta-vozes da associação numa vigília protesto no Porto. “O aterro está a 300 metros de uma escola e a 200 de casas. As consequências na saúde pública são visíveis. Estamos saturados do jogo do empurra. Não queremos ser outro São Pedro da Cova, diziam, numa referência à vila que luta, há anos, pela retirada de toneladas de resíduos perigosos. Vamos até às últimas consequências”, disse Marisol Marques, membro da Jornada Principal, associação que marcou para esta tarde uma vigília protesto em frente às instalações da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

E ir até às “últimas consequências” é uma expressão já com vários passos delineados pela associação, como contou aos jornalistas Diogo Pastor que é também membro do um dos elementos do movimento Unidos pelo fim do aterro no concelho de Valongo - Juntos por Sobrado: “No primeiro dia útil de Setembro entregamos uma acção popular no tribunal administrativo. Já temos mais de dez mil assinaturas [na petição pública que pede o encerramento do aterro], mas vamos chegar às 20.000 e, se nada fizerem a nível nacional, vamos ao Parlamento Europeu”.

Diogo e Marisol são duas das cerca de duas dezenas de pessoas que prometem ficar hoje quatro horas diante da CCDR-N com caixa negras a simbolizar um enterro, vela acesas, camisolas pretas em sinal de luto e faixas onde se lê por exemplo “Fim do amianto e dos biodegradáveis em Sobrado” ou “Não fiques calado, diz não ao aterro”. Chegaram por volta das 18h e prometem não arredar pé até às 22 horas. Pouco antes da 19h entregaram na recepção da CCDR-N uma carta aberta que já tinham difundido de manhã, na qual acusaram a tutela de “falta de zelo” e de “sacudir a água do capote”, reiterando críticas à Revivalongo, empresa que gere o aterro, a qual acusam de depositar resíduos “sem tratamento prévio”.

“Como é possível as entidades reguladoras de saúde ignorarem as constantes denúncias da população de Sobrado? Como é possível a Tutela renovar repentinamente as licenças da Recivalongo até 2026, ignorando o parecer desfavorável do Município de Valongo e a forte contestação da população? Como é possível a tutela compactuar com o negócio da importação de resíduos em que a única finalidade era o depósito em aterro sem qualquer tipo de tratamento?” - são as questões formuladas pela associação.

Em reacção a esta carta, esta tarde, a Recivalongo em nota escrita enviada à agência Lusa negou a existência de incumprimentos na gestão do aterro de Sobrado e convidou a Jornada Principal “a apresentar provas daquilo que afirma”.

“Mais provas? Querem mais provas. Não tem de ser a população a apresentar provas, tem de ser a empresa a mostrá-las e tem de ser o Governo a fiscalizar”, reagiu Diogo Pastor. Já Marisol Marques acrescenta: “Se não estivessem preocupados, tinham autorizado a associação a fazerem parte da comissão de acompanhamento que foi criada e não o permitiram”.

Em causa um aterro localizado em Sobrado, freguesia do concelho de Valongo, no distrito do Porto que tem sido alvo de grande contestação pela população local que, entre outras iniciativas, realizou já um buzinão com viaturas decoradas com faixas pretas e frases a pedir ao ministro o encerramento da estrutura.

“João Pedro não tenhas medo, encerra o aterro” ou “João Pedro não tens solução, pede a demissão” - são alguns dos gritos de ordem que vão ecoando junto à entrada da CCDR-N, local escolhido por causa daquilo que a associação diz ser um “jogo do empurra” entre o ministério do Ambiente tutelado por João Pedro Matos Fernandes e a comissão regional.

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