Óscar esculpiu o rosto de Miguel Torga numa raiz de três toneladas

O trabalho feito com uma motosserra decorreu na praça central de São Martinho de Anta, em Sabrosa, e é uma homenagem ao escritor que nasceu a 12 de Agosto de 1907.

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LUSA/PEDRO SARMENTO COSTA

O artista Óscar Rodrigues esculpiu, com uma motosserra, o rosto de Miguel Torga na raiz de um negrilho com aproximadamente três toneladas, uma iniciativa promovida pela Junta de São Martinho de Anta, Sabrosa, para homenagear o escritor.

Torga e as suas raízes é o nome da obra que vai assinalar este ano o aniversário do nascimento de um dos mais conhecidos autores do Douro e Trás-os-Montes, que se assinala na quarta-feira. “Tem muito mais sentido fazer esta intervenção no negrilho, árvore que ele imortalizou através da sua escrita. A alma, a essência está nisso”, afirmou à agência Lusa o escultor.

O trabalho foi feito ao vivo, na praça central de São Martinho de Anta, e é através de motosserras que Óscar Rodrigues, natural de Vila Pouca de Aguiar, dá forma à sua arte. A raiz tem aproximadamente três toneladas. De um lado pode ver-se o rosto de Torga, onde se percebem traços característicos do autor como o nariz longo e os lábios finos, e do outro mantiveram-se as enormes ramificações que se entrelaçam e se fundem. Na peça são perceptíveis as cicatrizes que o tempo deixou na raiz, como algumas partes ocas. No entanto, a obra está a causar alguma polémica, pois há quem defenda que a raiz deveria ter ficado inalterada.

PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA
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PEDRO SARMENTO COSTA/LUSA

Óscar esculpe a madeira utilizando a técnica de wood carving, ou seja com uma motosserra. “É uma motosserra normalíssima, apenas tenho uma mais pequena e afiada para fazer um detalhe mais de pormenor, específico”, explicou. Esta é uma técnica que o artista está a ajudar a divulgar em Portugal.

Torga, cujo nome de baptismo era Adolfo Correia da Rocha, nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho de Anta e, através da sua obra, imortalizou o negrilho de grande porte que estava situado no largo do Eirô, na localidade do concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real.

A árvore protagonizou, por exemplo, o poema Negrilho e curiosamente terá secado, segundo se diz localmente, no ano da morte do poeta e médico, em 1995. O presidente da Junta de Freguesia de São Martinho de Anta e Paradela de Guiães, José Gonçalves, afirmou à Lusa que, para este projecto, ainda se tentou aproveitar o tronco do negrilho que tinha sido colocado no local original, numa base de cimento.

No entanto, segundo explicou, verificou-se que o tronco “estava já podre”, pelo que foi decidido usar a raiz. “A ideia foi reaproveitar o pouco que ainda existia e onde se conseguiria fazer alguma coisa para homenagear o poeta e o próprio negrilho”, salientou o autarca.

Depois de a escultura estar terminada, a madeira vai ser tratada com vista à sua preservação e protecção. Será também colocada, com a ajuda de uma grua, no local onde originalmente estava o negrilho. José Gonçalves referiu que desde sexta-feira, dia em que o escultor começou o trabalho ao vivo, foram várias as pessoas que ali pararam para observar e fazer perguntas sobre a escultura.

Muitos visitantes chegam à terra natal de Miguel Torga guiados pela sua obra e ali é possível ver a casa onde residiu e que está a ser alvo de uma intervenção por parte da Direcção-Regional de Cultura do Norte ou subir à capela da Senhora da Azinheira.

Em São Martinho de Anta abriu portas em 2015 o Espaço Miguel Torga, um equipamento cultural, desenhado pelo arquitecto Eduardo Souto Moura, que tem como missão principal a divulgação da obra escritor transmontano. Óscar Rodrigues disse que se associou à homenagem a Torga porque é também um admirador da forma de escrita “pura e dura” do escritor.

Entre algumas das suas obras destacam-se os Contos da Montanha, Bichos, A Criação do Mundo, Senhor Ventura ou Vindima e na poesia Rampa, Abismo, Lamentação, Libertação ou Poemas Ibéricos.

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