Petroleiro encalhado pode provocar maior desastre ambiental na Maurícia

O navio japonês MV Wakashio encalhou num recife e ameaça partir-se ao meio, derramando milhares de toneladas de petróleo no mar. Desastre pode extinguir centenas de espécies. Governo já pediu ajuda internacional.

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O navio japonês MV Wakashio transportava quase quatro mil toneladas de crude a bordo Reuters/STRINGER
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Nas costas, voluntários usam baldes ou fardos de palha para tentar limpar e absorver o petróleo que chegou à praia LUSA/LAURA MOROSOLI
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,Derramamento de óleo
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O petroleiro japonês que encalhou perto do arquipélago da Maurícia está em risco de se partir ao meio, ameaçando um gigantesco desastre ambiental na pequena nação com 1,3 milhões de habitantes. Há duas semanas que o navio está a verter petróleo para o mar e o Governo insular já admitiu não ter capacidade para lidar com a crise, pedindo ajuda internacional. 

O MV Wakashio viajava entre a China e o Brasil quando encalhou, a 25 de Julho, num recife em Pointe D'Esny, abrindo um rombo no casco e vertendo crude para o mar. Até ao momento, diz o Guardian, mais de mil toneladas de petróleo das 3500 a bordo já contaminaram as águas, destruindo corais de recife, praias de areia branca e lagoas com água cristalina que atraem turistas de todo o mundo. Além disso, a área do desastre é próxima de duas zonas húmidas internacionalmente protegidas pela UNESCO - 64% das zonas húmidas no mundo desapareceram no último século, diz a organização. 

Mas o pior pode estar ainda por vir. O navio, com bandeira de conveniência do Panamá e construído em 2007, começa a dar sinais de grande fragilidade e as autoridades do arquipélago temem que se venha a partir ao meio, por uma parte já se ter afundado, causando uma catástrofe ambiental que arrisca destruir ecossistemas na zona e a economia nacional, dependente da pesca e que sofreu com as limitações às viagens no contexto de pandemia de covid-19. 

“As fendas cresceram. A situação está pior”, disse o primeiro-ministro da Maurícia, Pravind Jugnauth. “O risco de o navio se partir em dois ainda se mantém”. 

O primeiro-ministro já declarou o estado de emergência ambiental e pediu ajuda à França, admitindo não ter capacidade para lidar com a crise, e a organização ambiental Greenpeace avisou que a pequena nação insular pode sofrer o maior desastre ambiental da sua História, levando à extinção de espécies apenas vistas nessa zona do mundo.

“Milhares de espécies próximas das lagoas de Blue Bay, Pointe d'Esny e Mahebourg correm o risco de se afogar num mar de poluição, com terríveis consequências para a economia, segurança alimentar e saúde da Maurícia”, disse em comunicado a organização ambiental, citada pela Reuters. 

Mas já há quem diga que o desastre é inevitável e que a quebra do navio em dois vai tornar a situação incontrolável. “Acho que já é demasiado tarde. Se o navio se partir em dois, a situação vai ficar fora de controlo”, disse à AFP o engenheiro ambiental Vassen Kauppaymuthoo. “Estamos a falar de um grande desastre que continua a progredir e que se torna mais complicado a cada hora”. 

No terreno, entre o espanto e a tristeza, há quem não baixe os braços. Milhares de voluntários têm levado a cabo operações de limpeza nas praias e constroem barreiras com sacos e palha, para conter e absorver o petróleo, desrespeitando as ordens de abandono do local das autoridades e exigindo a demissão dos ministros do Ambiente e da Pesca por falta de acção - o executivo escuda-se com o argumento do mau tempo. 

“As pessoas estão a vir juntas aos milhares. Já ninguém está a prestar atenção ao Governo”, disse Ashok Subron activista ambiental, citado pelo Guardian. “As pessoas perceberam que precisam de agarrar nas coisas com as suas próprias mãos. Estamos aqui para proteger a nossa fauna e flora”, continuou. 

As populações locais ainda não se refizeram do choque. “Estou tão triste. Vivi aqui toda a minha vida. Isto é uma catástrofe para a região e não sei se o mar vai recuperar em breve. As autoridades não fizeram nada durante dias. Agora fazem, mas é demasiado tarde. Estou zangado”, disse à AFP Fezal Noordaully, taxista de Mahebourg, uma das vilas costeiras mais atingidas pelo derrame. 

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Milhares de voluntários estão no terreno a limpar as praias, desobedecendo às ordens do Governo Laura Morosoli /Lusa

Suspeitas de negligência

O Presidente francês, Emmanuel Macron, respondeu ao pedido de ajuda do Governo mauriciano enviando equipamento de monitorização dos níveis de poluição para a ilha de Reunião, território ultramarino francês, e um navio com material de absorção de petróleo para o local do desastre. E o Japão enviou uma equipa de seis elementos para ajudar na gestão da crise. 

No terreno, a empresa japonesa proprietária no navio, a Nagashiki Shipping Company, tentou libertá-lo, mas o mau tempo mostrou-se um entrave difícil de ultrapassar. “Faremos o nosso melhor com as autoridades da Maurícia e organizações japonesas relevantes para descarregar o petróleo que está no navio, limpar o derramamento e remover o navio com segurança”, disse em comunicado. “Sentimos muito”, disse o vice-presidente da empresa, Akihiko Ono. 

O desastre pode ter sido motivado por negligência. O navio seguiu uma rota de colisão com conhecidos recifes durante dois dias, já quando estava em águas da Maurícia, diz a revista Forbes, levantando dúvidas sobre a qualidade da sua navegação, e a Guarda Costeira da Maurícia não recebeu qualquer pedido de socorro depois de o navio encalhar.

As autoridades já abriram um inquérito para apurar as causas e acções dos intervenientes no desastre e a polícia tem em sua posse um mandato de busca e apreensão para entrar no navio. 

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