Como uma piada com emojis se tornou num movimento contra o racismo

A piada começou num grupo de chat entre amigos e por causa do TikTok. Mas os emojis olho-boca-olho tornaram-se num movimento anti-racista, que recebeu mais de 200 mil dólares em doações.

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Se usas as redes sociais assiduamente, principalmente o Twitter, com certeza já te cruzaste com esta combinação de emojis: olho-boca-olho. E podes já ter-te questionado sobre o que é. Significa “it is what it is” (“é o que é”, em português) e nasceu no TikTok como uma forma de expressar choque, surpresa, nojo ou raiva. Acabou por se tornar num movimento de angariação de fundos para causas anti-racismo.

O movimento começou como uma piada entre amigos que, depois de terem visto a tendência no TikTok, mudaram os nomes de utilizador no Twitter, passando a incluir a combinação de emojis. Começava assim uma moda: mais utilizadores, ainda que sem saberem muito bem porquê, começaram a colocar os mesmos emojis nos seus nomes. Durante algum tempo, todos o que o faziam, eram adicionados a uma conversa.

“O que começou como um meme no nosso pequeno grupo, cresceu mais do que alguma vez imaginamos”, escrevem os criadores do movimento em comunicado. Decidiram, por isso, aproveitar o hype e começar algo com significado. Não precisaram de “pensar muito”, contam. O tema do momento era o racismo. Abriram uma conta com o nome de utilizador @itiseyemoutheye e criaram um site, onde convidaram quem quisesse a deixar o email.

Boatos sobre uma nova plataforma começaram a surgir, o que fez com que ainda mais gente se registasse no site, com medo de perder a oportunidade de receberem uma novidade. “Safámo-nos muito bem para um produto que não existia”, dizem. “O site conseguiu 20 mil emails e milhares de tweets a partilhá-lo. Falaram de nós no Independent e na Forbes. Algumas pessoas no Reddit questionaram-se sobre quem éramos.” A dada altura, decidiram explicar isso mesmo e lançaram o comunicado.

A página, que, inicialmente, servia para reunir os emails, passou a apelar a doações. Loveland Foundation Therapy Fund, The Okra Project e The Innocence Project foram os escolhidos. Só depois de oferecerem dinheiro é que os doadores sabiam que estavam a contribuir para um produto que não era real. Mas “é o que é”.

Posteriormente, publicaram um comunicado a explicar no que consistia a plataforma. “Conseguimos angariar mais de 65 mil dólares de pessoas que se inscreveram na nossa lista de emails. Duas pessoas anónimas deram 60 mil e 75 mil, perfazendo um total de 200 mil dólares”, explicam.

“De uma maneira estranha, isto acabou por se tornar num manifesto contra o que todos tínhamos visto no Twitter. Somos um grupo diverso e desorganizado de informáticos jovens cansados do status quo da indústria tecnológica”, atiram. E garantem que, apesar de acções como a carta It’s Time to Build assinada por Marc Andreesen, que popularizou a World Wide Web, e alerta para a necessidade de criar “novos produtos, indústrias, ciência”, de forma a fazer frente a adversidades —, “a maior parte da indústria continua obcecada com apps sociais que geralmente ignoram — ou silenciam — as necessidades que as pessoas marginalizadas enfrentam”. “Enquanto indústria, precisamos de fazer melhor.”

O comunicado termina com um agradecimento a todos os que doaram ou espalharam a mensagem. E deixa uma frase que resume todo o movimento: “Um meme que se espalhou graças à necessidade incessante de acesso a aplicações exclusivas e a redireccionou para necessidades sociais.” Que, ao contrário das tendências que viralizam nas redes sociais, não são só uma moda.

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