Cartas ao director

Incêndios, paródia do nosso Verão

Que bom voltar a ver os aviões e os helicópteros a passarem por cima das nossas cabeças, indo e vindo dos fogos que com o seu fumo negro felizmente cobrem o céu demasiado azul, e o ronronar dos motores e das hélices que nos enchem a alma de paz e conforto. Este ano estavam a demorar, ainda bem que já vieram.

Que bom ver os montes e vales outrora cobertos por bosques/soutos frondosos, agora cheios de matos (giestas,tojos,etc.) altamente inflamáveis e de eucaliptos a perder de vista, regalo para os nossos olhos e tão apetecíveis para uma tarde bem passada com os amigos e família.

Que bom ver todas aquelas pessoas da Protecção Civil no Telejornal sempre bem fardados e condecorados com todas aquelas palavras técnicas. De certeza sabem o que fazem. Deve ser por isso que nos sentimos cada vez mais seguros. Que bom ouvir o Presidente da Liga dos Bombeiros dizer que temos uma floresta assassina. Culpa de quem? Que bom ter visto os meus discos, os meus livros, a minha roupa, a minha mobília, todas as minhas recordações queimadas.

Enfim, que bonita a visão da minha casa queimada. Para quando o próximo incêndio? Qual seria a graça do nosso querido Verão sem os incêndios? De repente fiquei sem vontade de brincar.

Helder Correia, Avô

Estarei lá!

Podem pensar que exagero mas enraivecida é a palavra exacta para descrever o que sinto com a violência, a todos os níveis, do que vou tendo conhecimento pela comunicação social : violência de vário género dentro da família, nos chamados lares, nos infantários, nas ruas. E a procura de justificação por parte da polícia, de advogados e juízes para a violência física e verbal (seja em que contexto for) é conivência!

Não tenho, nunca tive, nenhum familiar ou amigo/a “de cor”. O meu pai cumpriu 30 meses de serviço militar em Cabo Verde na década de 40 e nunca lhe senti o mais leve indício de superioridade em relação aos indígenas. Um vizinho e amigo tratou de forma rude um meu filho só porque, não o tendo logo reconhecido, julgou que fosse cigano. A esposa, minha amiga, desconfia da competência do médico de família porque ele é “de cor” e não é “simpático”. Em Portugal há racismo, sempre houve, e continua a haver.

Acredito que os “de cor” e os ciganos nos olhem com desconfiança porque estão habituados a que os vejamos como incultos, preguiçosos e desonestos. A violência gera violência. O racismo gera desconfiança, medo e... racismo! 

Há semanas houve uma manifestação no Porto de repúdio pela morte do negro assassinado pela polícia dos EUA que encheu a Av. dos Aliados. Pergunto-me por que houve tão pouca gente (cerca de 200 pessoas) a manifestarem indignação pelo assassinato do Bruno Candé Marques por um “branco” assumidamente racista. Será que está a tornar-se banal a agressão violenta e/ou o assassínio de “pretos” ou imigrantes? Ou porque foi em Lisboa e não no Porto ou nos EUA?  Sempre que houver manifestações contra actos xenófobos e racistas estarei lá.

Domicília M. C. Costa, Vila Nova de Gaia

Sugerir correcção