Mandatário de Marcelo nas presidenciais ataca Rui Rio

Pedro Duarte acusa a liderança do PSD de falta de rumo, de bengala do poder socialista ou da extrema-direita, e o presidente do partido de autocrático.

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Pedro Duarte faz uma avassaladora crítica a Rui Rio daniel rocha

“O verdadeiro PSD foi-se diluindo no feitio e nas convicções do seu presidente. De Partido Social Democrata (PSD) passou-se a uma espécie de Partido de Rui Rio (PRR)”. Quem o escreve é Pedro Duarte, que foi mandatário nacional da candidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, num duro texto publicado este sábado no semanário Expresso, em que, ponto por ponto, analisa e se demarca da actuação da actual liderança do PSD.

“O PSD ainda existe?” é o título do texto, a interrogação e premissa, da análise crítica. Depois de salientar que o PSD, para cuja liderança tem sido sucessivamente apontado, é defensor inegociável de uma sociedade democrática, aberta e respeitadora dos Direitos Humanos, Pedro Duarte reflecte sobre as declarações de Rui Rio quanto a possíveis alianças com o Chega, desde que a formação de André Ventura se moderasse. Tal moderação não convence o autor, e o PRR - o partido de Rio - é acusado, no artigo, “de abrir a porta ao entendimento com partidos anti-sistema, de inspiração nacionalista e totalitária”.

A formulação de antíteses prossegue de forma implícita quanto ao modo como Rui Rio tem liderado a oposição ao Governo de António Costa, sem se afirmar como alternativa democrática. “Tende a jogar tacticamente, avaliando o contexto para se encostar ou afastar do poder instalado”, critica. Aliás, Pedro Duarte classifica a estratégia da presente liderança como inócua, “que espera que o poder lhe caia no colo e que, assim, se arrisca a viver dependente do socialismo ou da extrema-direita emergente.”

Esta falta de rumo claro, radica, afirma, numa liderança unipessoal, de pensamento único - o do chefe -, “onde quem pensa diferente é afastado”, em contradição com o ADN de centro-direita e de centro-esquerda. “O PRR diz-se do centro, apesar de não ter uma única ideia que o sustente. Neste ponto, Pedro Duarte remete para declarações de Rui Rio nas quais definiu o centro como o espaço onde estão os votos.

Um dos pontos mais duros da argumentação, reside na evocação da ética de Sá Carneiro, “nunca permitindo que comportamentos individuais desviantes se tornem sistémicos”. Na actualidade, sublinha, a ética não passa de uma proclamação táctica para “valorizar o chefe face aos outros membros do partido.”

Pedro Duarte acusa Rio de desconfiar da militância do PSD e de tomar decisões à revelia dos estatutos e de não se sujeitar a debate e a escrutínio. “Quando conveniente, ignora-se o voto secreto ou a discussão do programa eleitoral, escolhem-se os amigalhaços para os lugares ou, numa decisão mais recente, impõe-se o fim dos debates quinzenais [com o primeiro-ministro, no Parlamento] de forma grosseiramente autocrática.” Esta proposta do PSD foi apoiada pelo PS, mas em ambos os partidos não foi unânime.

Pedro Duarte, que liderou a “jota” do PSD, acusa Rui Rio de pretender uma JSD disciplinada, sem irreverência ou dinâmica empreendedora. A forma de gestão do presidente do partido é, mais uma vez, posta em causa, por não conseguir captar os melhores da sociedade, “e toma o seu Conselho Estratégico por um naipe de assessores em regime de low-coast.” Rui Rio é acusado de fulanizar as ideias políticas e de reduzir a vida pública ao culto de lideranças perigosamente populistas.”

Depois deste devastador elenco de críticas, Pedro Duarte anseia que o PSD saia do que define como hibernação. “A situação é demasiado grave para que fique calado. A minha consciência, a minha história de dedicação partidária e o meu amor por Portugal, não admitem o conforto do silêncio”, conclui.

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