Com a contestação a subir, Hezbollah nega envolvimento na explosão no porto de Beirute

Libaneses saem às ruas para contestar a classe política que acusam de ter “as mãos sujas de sangue”. Hassan Nasrallah diz confiar que investigação em curso “revele a verdade” sobre a explosão.

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Criança assiste ao discurso de Hassan Nasrallah na televisão WAEL HAMZEH/EPA

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, negou esta sexta-feira que o grupo armado libanês tenha qualquer ligação com a explosão no porto de Beirute da última terça-feira, que causou pelo menos 154 mortos, 5000 feridos e 300 mil desalojados.

“Não temos nada no porto: nem um depósito de armas, nem um depósito de mísseis, nem espingardas, nem bombas, nem balas, nem nitrato de amónio”, garantiu Nasrallah, num discurso transmitido pelas televisões, em que se mostrou confiante que a investigação em curso “revele a verdade”, admitindo que a ajuda internacional pode ser benéfica para o Líbano. “Os responsáveis devem prestar contas. Ninguém deve ser protegido”, acrescentou. 

Já o Presidente libanês, Michel Aoun, que, tal como o primeiro-ministro Hassan Diab, disse que na origem da explosão estavam 2700 toneladas de nitrato de amónio armazenados há seis anos no porto de Beirute, insinuou esta sexta-feira que “existe a possibilidade de interferência externa” na explosão, apesar de não ter apresentado qualquer prova nesse sentido. Aoun rejeitou ainda os pedidos para uma investigação internacional independente.

Enquanto se apuram responsabilidades pela tragédia, a contestação ao executivo de Hassan Diab sobe de tom e nem o anúncio da detenção de 16 funcionários do porto de Beirute tranquilizou os libaneses, que cada vez acreditam menos na sua classe política, num país que atravessa uma profunda crise económica

“Somos alimentados com mentiras através de mentiras por este sistema corrompido e por estes políticos corruptos que apenas estão a tentar ganhar tempo para saírem desta confusão”, disse à BBC Rayane Awkalm, residente em Beirute, acusando a classe política de ter “as mãos cheias de sangue”.

Depois de a polícia ter usado gás lacrimogéneo na noite de quinta-feira contra dezenas de manifestantes que, junto ao Parlamento, pediam a demissão do Governo, nas redes sociais foi convocada uma grande manifestação para este sábado, no centro da capital.

Com as críticas ao Governo a aumentarem, os habitantes de Beirute continuam a limpar os escombros e a tentar reconstruir a cidade. A ajuda internacional já começou a chegar, mas prevêem-se muitas dificuldades para os próximos tempos.

Várias organizações das Nações Unidas alertam para um país no limite, que pode ficar sem comida e cujos hospitais não conseguem dar resposta à elevada procura. Temendo os estragos causados no porto, que destruiu o silo de cereais, num país que importa mais de 85% da sua comida e mais de 90% dos seus cereais, o Programa Alimentar Mundial já anunciou o envio de comida para o país. 

Reuters, PÚBLICO

A Organização Mundial de Saúde avisou que os hospitais no país estão cheios, num cenário agravado pela covid-19, e que mais de 500 camas perderam-se devido à explosão, enquanto pelo menos cinco hospitais da capital, assim como um número incerto de centros de saúde, não estão a funcionar.

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