Alfa Pendular vai demorar mais oito minutos entre Lisboa e Porto em Setembro

Obras na linha do Norte, no troço Ovar – Gaia, vão penalizar a velocidades dos comboios. Intercidades vão demorar mais sete minutos.

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Paulo Pimenta

A partir de Setembro a viagem no comboio mais rápido entre Lisboa e o Porto vai regressar aos mesmos tempos dos anos oitenta do século passado quando o Alfa demorava três horas a ligar Santa Apolónia a Campanhã. Agora, devido às obras na linha do Norte, o pendular vai demorar 2 horas e 58 minutos em vez das 2 horas e 50 minutos actuais.

Esta penalização de oito minutos — que será de sete minutos nos Intercidades —, deve-se à programada intervenção da Infra-estruturas de Portugal (IP) para requalificar o troço mais degradado da linha do Norte, entre Ovar e Gaia. A coexistência de obras com os comboios a passar obriga a velocidades mais reduzidas que penalizam os tempos de trajecto.

Este é, porém, um processo que já vem de trás. Em 2018, o Alfa Pendular fazia o percurso entre as duas cidades em 2 horas e 44 minutos, mas devido à degradação da via-férrea, a empresa gestora da infra-estrutura reduziu a velocidade máxima naquele troço de 140 km/hora para 120 Km/hora e, nalgumas secções, para 110 Km/hora.

O motivo não eram as obras, mas sim a segurança da circulação que poderia ser posta em causa devido ao mau estado da linha.

Agora, o início das obras obriga a nova redução da velocidade, o que fará a viagem mais rápida ficar limitada a 2 horas e 58 minutos em vez das 2 horas e 50 minutos actuais.

Os trabalhos, orçados em 160 milhões de euros, deveriam ter começado em finais de 2017 e tinham a sua conclusão prevista para Julho de 2019, mas só agora terão início. Deverão demorar um ano e meio. Mas, quando terminarem, nem por isso o Alfa Pendular (e os outros comboios) circulará ali a uma velocidade muito superior porque a intervenção prevista não é um verdadeiro investimento (modernização da via férrea), mas sim a realização de trabalhos de manutenção pesada (substituição de equipamento degradado por equipamento novo).

Os trabalhos implicam a exploração em “via única”, isto é, os comboios só circulam por uma das linhas porque a outra está em obras. Como isso tem implicações nos cruzamentos, toda a circulação é afectada.

O Plano Nacional de Investimentos PNI 2030 prevê a construção de uma variante entre Gaia e Cacia (Aveiro), a qual se fosse já realizada poderia evitar os incómodos das obras no corredor actual porque o tráfego seria desviado para a nova linha. Essa é, aliás, uma vantagem de uma construção faseada da futura linha de altas prestações (ou “velocidade alta”) entre Lisboa e Porto: agregar o tráfego na “linha nova” e deixar a “linha velha” liberta para as obras.

A lógica recomendaria um tal planeamento, mas duas razões impedem essa abordagem: o troço em causa está, realmente, muito degradado e precisa de obras urgentes, e os fundos comunitários para o Ferrovia 2020 esgotam-se em 2023 pelo que a obra tem de avançar já.

É por isso que o Alfa Pendular vai agora demorar 2 horas e 58 minutos entre Santa Apolónia e Campanhã, menos dois minutos do que os comboios rápidos de 1980.

Em 1877, onze anos depois da inauguração do caminho-de-ferro em Portugal a viagem entre Lisboa e o Porto demorava 14 horas. Em 1911, após a implementação da República, locomotivas a vapor compradas à Alemanha reduziram esse tempo para cinco horas e meia. E em 1953 o Foguete (uma automotora diesel de fabrico italiano) ligava as duas cidades em quatro horas e meia.

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