Fast Science: ciência em tempos de pandemia

É a oportunidade de fazer uma ponte, agora de forma estruturada e ponderada, entre investigação, clínica e as nossas empresas. Uma ponte baseada em necessidades clínicas, em saúde pública e na nossa necessidade crónica de não estagnar a nossa economia.

Nunca se falou tanto de ciência em Portugal como atualmente se faz e o responsável tem o modesto nome de SARS-CoV-2 (o novo coronavírus). Será isso algo positivo? Sim e não.

Não, porque foi necessária uma pandemia para se falar de ciência, para se contextualizar a sua importância. Mau sinal. De forma repentina temos agora milhões de pessoas a sonhar com uma nova vacina, com outras tantas a tomar erradamente hidroxicloroquina enquanto esperam e consultam informação pouco fiável. Uma vacina para muitos agora assente numa fast science, a fast food da ciência, para satisfazer as nossas necessidades o mais rapidamente possível. Só temos um pequeno problema: grelhar um hambúrguer é mais simples do que desenvolver uma vacina.

Sim, porque é agora trazida à luz do dia, e a uma maioria da população, informação e educação, que são essenciais em áreas chave e estratégicas, como é o caso da saúde. Porque um país e uma sociedade baseada em conhecimento, onde ciência, investigação e tecnologia são uma força motriz, é sinónimo de desenvolvimento socioeconómico. Para isso, devemos capitalizar da melhor maneira esta mudança de paradigma que a pandemia criou, aprender com os nossos erros e aproveitar as oportunidades que estão agora na mesa.

É a oportunidade de fazer uma ponte, agora de forma estruturada e ponderada, entre investigação, clínica e as nossas empresas. Uma ponte baseada em necessidades clínicas, em saúde pública e na nossa necessidade crónica de não estagnar a nossa economia.

É fundamental desenvolver uma estratégia nacional, um plano flexível e sensível à fluidez de um mundo em constante mudança. Ter em vista uma maior aplicabilidade, tal como tem acontecido durante esta pandemia com o enorme esforço internacional que está a ser feito para caracterizar o vírus, para nos protegermos dele e desenvolver uma vacina eficaz.

É de realçar que Portugal se encontra em 16º lugar, em 27 países da União Europeia, no que diz respeito a quanto se gasta do PIB em investigação e desenvolvimento. O nosso país gasta 1,36% do PIB versus 2,19% de média europeia (dados Pordata), ganhando um lugar na metade inferior da tabela. O significativo pacote de recuperação económica da União Europeia, recentemente aprovado, deverá ser ponderadamente e estrategicamente aplicado em ciência e investigação em Portugal.

A oncologia entra diretamente neste prisma, com a necessidade crescente de garantir inovação e novas terapêuticas nesta área e de não permitir o abrandamento deste acesso como repercussão da pandemia.

Portugal tem cientistas de renome mundial a realizar investigação de ponta, dentro e fora do país. Portugal tem dos melhores médicos e profissionais de saúde que se pode querer, dentro e fora do país. Ambos têm uma principal qualidade em comum: fazem omeletes sem ovos. É altura de lhes darmos também hambúrgueres para grelhar. Vão ver que vão fazer o melhor hambúrguer com ovo do mundo.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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