Cartas ao director

A cultura do mais ou menos

O brutal acidente do Alfa Pendular em Soure, que só por manifesta sorte não teve consequências mais gravosas, trouxe, uma vez mais, à memória uma história contada por uma pessoa amiga a propósito do laxismo recorrente que nos caracteriza. O marido, de nacionalidade inglesa, que decidira viver entre nós após a reforma, dizia que éramos um povo mais ou menos.

Como assim? É que, assistindo à construção da casa onde passaram a viver, reparou que a utilização desta expressão imprecisa era comum entre os responsáveis da obra. Desde a composição dos materiais usados na construção ao tamanho das portas e janelas, nada era definitivamente precisado tudo se quedando pelo mais ou menos.

Esta falta de rigor que nos caracteriza, que receio se perpetue e agrave, explica muitos dos erros e desvios das decisões tomadas aos mais diversos níveis político-sociais e do nosso quotidiano. Adoramos improvisar e fugir a tudo o que exija ser tratado com precisão.

Na visita ao local do acidente, o nosso Presidente terá garantido ser o caso “raríssimo” e que “continua a ser seguro viajar de comboio”. Pois sim, seguramente que iremos digerir mais um erro resultante desta cultura mais ou menos. Porém, quando é que lhe vamos pôr cobro deixando de ser complacentes com a inquietante falta de rigor?

Jorge Almeida, Porto

O desastre de Soure

Carlos Cipriano dá-nos a saber que a manobra que o Veículo de Inspecção da Catenária (VCC) fez em Soure com tão funestas consequências já havia sido feita 15 vezes entre os anos de 2010 e 2017, embora sem outras consequências que não fossem avarias nos Aparelhos de Mudança de Via (agulhas em linguagem corrente), forçadas para permitir a entrada do veículo na linha principal.

Sim, não foi apenas a ultrapassagem do sinal de vermelho que se deu em Soure, mas também uma actuação forçada sobre a “agulha” que ligava a via onde a VCC estava estacionada à linha principal.

Deste modo, a instalação do Convel (Controlo de velocidade) nestes pequenos veículos que atingem velocidades reduzidas, aparentemente desnecessária, torna-se uma urgência face à indisciplina dos trabalhadores que conduzem esses veículos. Essa instalação já havia sido recomendada por um gabinete especializado na prevenção de acidentes ferroviários (e com aeronaves) sem que as Infraestruturas de Portugal (IP) tivessem feito muito para resolver o problema.

Carlos Anjos, Lisboa

E agora António Laranjo?

António Laranjo, presidente das Infraestruturas de Portugal, não levou em consideração as recomendações apresentadas pelo gabinete de segurança e publicadas em 25 de Julho de 2018, recomendações essas apresentadas em função de anomalias com veículos de reparações da via ferroviária, e desta forma contribuiu para a morte de duas pessoas em Soure. O que António Laranjo vai fazer? Vai demitir-se ou não? 

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

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