Mário de Carvalho: “Este meu ar despachado”

A lista de autores preferidos do escritor de Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde não tem fim. Se pudesse mudar alguma coisa em si seria o “mau feitio das terças-feiras”.

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ADRIANO MIRANDA

Qual a sua ideia de felicidade perfeita?
Vogar por sobre nenúfares, ouvindo suaves harpejos e entoando maviosos cânticos.

Na sua personalidade, que característica mais o irrita?
Esta minha incorrigível complacência.

E qual o traço de personalidade que mais o irrita nos outros?
A empáfia.

Que pessoa viva mais admira?
Caso para pensar… Mas o Sr. Comendador Ângelo Correia, sempre que se exprime, deixa-me rendido.

Qual a sua maior extravagância?
Dar duas voltas ao lenço antes de me assoar.

Qual o seu estado de espírito neste momento?
Um vago enfado. 

Qual a virtude que pensa estar sobrevalorizada?
A bem-falância.

Em que ocasiões mente?
Nas mais adequadas, mas sempre com o fito de resgatar a Humanidade.

O que menos gosta na sua aparência física?
Este meu ar despachado.

Entre as pessoas vivas, qual a que mais despreza?
O Sr. Eleutério Macarrão Lopes, que mora ali à Graça e me vendeu uma tábua de skate rota.

Qual a qualidade que mais admira num homem?
A capacidade de se estar nas tintas.

E numa mulher?
A vontade (manifesta) de me seduzir.

Diga uma palavra – ou frase – que usa com muita frequência.
“Bem vê…”

O quê ou quem é o maior amor da sua vida?
Não posso declarar. Ficaria desamparado.

Aonde e quando se sente mais feliz?
“Aonde”, ou “onde”? Não é a mesma coisa. Mas, enfim, para e na floresta. De preferência com águas mansas ao perto.

Que talento não tem e gostaria de ter?
O de responder a este questionário em excelentes versos alexandrinos.

Se pudesse mudar alguma coisa em si o que é que seria?
O mau feitio das terças-feiras.

O que considera ter sido a sua maior realização?
Não tenho feito filmes ultimamente. Mas há umas imagens antigas, com o meu neto João, que escapam…

Se houvesse vida depois da morte, quem ou o quê gostaria de ser?
Um tipo porreiro.

Onde prefere morar?
Aqui na torre mais alta deste castelo ebúrneo. Pena que falte o elevador.

Qual o seu maior tesouro?
O da ilha do mesmo.

O que considera ser o cúmulo da miséria?
Prestar-se alguém a armar ao pingarelho.

Qual a sua ocupação favorita?
Luta livre, nem sempre leal, contra palavras e sintaxes.

A sua característica mais marcante?
O olhar distraído.

O que mais valoriza nos amigos?
O sentido do decoro.

Quem são os seus escritores favoritos?
Robert Louis Stevenson, Mark Twain, André Malraux, Apuleio, Cervantes, Virgílio, Thomas Mann, Fernão Lopes, Fernão Mendes Pinto, Ponson du Terrail, Os múltiplos autores da História Trágico-Marítima, João Ruiz de Castelo Branco, Payo Soarez de Taveirós, Eça e Camilo, Flaubert, D. Duarte, Franz Kafka, Francisco Rodrigues Lobo, Rabelais, Homero, Goethe e Dante, Gil Vicente, José Cardoso Pires… e os mais que podereis consultar nesta estante mesmo atrás de mim.

Quem é o seu herói de ficção?
O Teodorico Raposo de A Relíquia.

Com que figura histórica mais se identifica?
Salgueiro Maia.

Quem são os seus heróis na vida real?
Os heróis têm a particularidade de não pertencer à vida real, mas à imaginária. Eu aprecio muito os bombeiros.

Quais os nomes próprios de que mais gosta?
Briolanja, Carmesinda, Gunegundes, Eleutéria…. Ele há tantos…

Qual o seu maior arrependimento?
Aquela vez em que fui, às escondidas, ao pote do doce de tomate e fiquei a enjoá-lo para toda a vida.

Como gostaria de morrer?
Sem chatices de permeio.

Qual o seu lema de vida?
“Nem maçar, nem ser maçado.”

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