A linha ténue entre confinar e desconfinar

Iremos assistir a uma segunda vaga? E, caso seja ela uma realidade, como lidar com a linha ténue entre as medidas de confinamento e as medidas de desconfinamento?

A tensão entre o regresso a medidas de confinamento e a eliminação das medidas de restrição por causa da covid-19 exige um equilíbrio instável entre saúde pública, prosperidade económica e direitos individuais. A única certeza quanto a esta pandemia é a ausência de qualquer certeza. Não há linearidade na evolução pandémica.

As Filipinas vão retomar um confinamento mais rigoroso em Manila, porque o país se debate com um grande aumento do número de infecções, e são os próprios profissionais de saúde que exigem o reforço das restrições, por acharem que a “batalha” está a ser perdida e o sistema de saúde está em situação de pré-ruptura. A Austrália viu-se obrigada a declarar o estado de calamidade no estado de Victoria para travar a expansão do novo coronavírus.

As 20 mil pessoas que este domingo se juntaram em Berlim para protestar contra as restrições em vigor fizeram-no em nome do “Dia da Liberdade”, para denunciarem a “conspiração” entre Bill Gates e a indústria farmacêutica. Não só o fizeram invocando o título do célebre documentário de Leni Riefenstahl sobre o congresso do Partido Nazi em 1935, como desfilaram sem qualquer norma de distanciamento social nem materiais de protecção. A manifestação terminou com 18 polícias feridos. Há várias batalhas a decorrer em simultâneo.

Este Verão de incertezas é a antecâmara da preocupação que se segue: iremos assistir a uma segunda vaga? E, caso seja ela uma realidade, como lidar com a linha ténue entre as medidas de confinamento e as medidas de desconfinamento? O epidemiologista Manuel Carmo Gomes escreve no PÚBLICO que o muito que aprendemos nestes últimos seis meses deve ajudar-nos a preparar o Outono.

Se os municípios possuírem um conjunto de directrizes de saúde pública sobre como actuar em casos de infecções nos transportes, lares ou escolas, sugere Carmo Gomes, as autoridades de saúde locais podem aplicá-las de forma mais ágil e rápida aquando do surgimento de um surto localizado, sem aguardar pelas habituais instruções de Lisboa, dispondo, nos casos de maior gravidade, do envio de equipas móveis para reforçar a rede. Surtos localizados deveriam exigir intervenções focadas a nível local, responsabilizando as autoridades locais e evitando as “batalhas” a que assistimos nos primeiros meses de pandemia. Temos dois meses para evitar que se cometam os mesmos erros.

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