Os vários graus de felicidade dos treinadores que regressam

Jorge Jesus vai voltar ao Benfica, onde conquistou muitos títulos. Mas será boa ideia? Há bons e maus exemplos.

Foto
Guttmann voltou ao Benfica, mas não foi feliz no regresso DR

Jorge Jesus voltou ao Benfica. E com ele voltaram as memórias de todos os títulos que conquistou em seis temporadas (dez, incluindo três campeonatos), e a esperança que, nesta segunda comissão de serviço na Luz, JJ tenha igual ou maior sucesso. Mas será boa ideia um treinador voltar a um clube onde foi (e que fez) feliz? Luís Filipe Vieira acha que sim. Mas nem sempre o regresso ao passado funciona. Há bons e maus exemplos, não só no Benfica, mas em muitos outros clubes. E o próprio Jesus, antes do Benfica, também já tinha repetido clubes.

Já que o pretexto é o Benfica, comecemos por aqui. JJ não é o primeiro treinador repetente na Luz, nem sequer o primeiro treinador repetente da era Vieira. Antes de Jesus, Vieira tinha um fetiche com o espanhol José António Camacho, que contratou nos seus tempos de presidente da SAD benfiquista e que usou como arma de campanha nas primeiras eleições que ganhou em 2003. E até passou férias com ele. Camacho nem esteve mal na sua primeira passagem pela Luz, com dois segundos lugares em 2003 e 2004, e deixando a base de uma equipa que seria campeão na época seguinte com Trapattoni.

Foto

Quando o Real Madrid lhe bateu à porta, Camacho disse que sim, mas deixou cartel na Luz. Trapattoni, o seu sucessor, teve sucesso, Koeman e Fernando Santos, nem por isso. E Camacho regressou no início de 2007-08, substituindo Fernando Santos, despedido após um empate com o Leixões. Mas este regresso do antigo seleccionador espanhol acabou antes de tempo – Camacho apresentou a demissão em Março de 2008 após um empate em Leiria.

Recuando algumas décadas, vale a pena falar de Béla Guttmann, o homem da praga europeia. Com o húngaro no banco, o Benfica ganhou dois títulos nacionais e duas Taças dos Campeões Europeus entre 1959 e 1962, mas Guttmann não ficou na Luz porque não lhe queriam pagar o que ele queria. Voltaria em 1965, mas sem qualquer título conquistado, também ele vítima da maldição que lançou.

Excluindo os interinos que faziam a transição entre treinadores (como Chalana ou Mário Wilson), o Benfica teve sucesso com treinadores repetentes (Fernando Riera e Sven-Goran Eriksson foram campeões nas duas passagens pelo banco dos “encarnados”). Neste aspecto, Toni é um caso à parte. O antigo médio dos “encarnados” foi campeão nas duas primeiras passagens pelo banco do Benfica (1989 e 1994), mas falhou redondamente quando foi chamado por Manuel Vilarinho para substituir José Mourinho.

Pedroto regressou para ser feliz

José Maria Pedroto é a figura tutelar de um FC Porto que se relançou como clube ganhador e de dimensão nacional e internacional. O “Zé do Boné” passou pelo FC Porto em quatro momentos. Primeiro como jogador (oito épocas e dois títulos de campeão), terminando a carreira nos “dragões” e transitando de imediato para uma carreira de treinador nos escalões de formação. Só em meados dos anos 1960 é que teve a primeira oportunidade como treinador da equipa principal, mas não foi campeão em nenhuma das três épocas (1966 a 1969).

Foto
Pedroto e Pinto da Costa, uma dupla inseparável FC Porto

Saiu e, na década seguinte, consolidou a sua aura de treinador exigente e inovador, liderando grandes equipas do Vitória de Setúbal e do Boavista, antes de regressar às Antas em 1976, pela mão de Jorge Nuno Pinto da Costa, então director do departamento de futebol. Na época seguinte, quebrou o maior jejum de títulos da história do FC Porto (19 anos) e chegou ao “bi” na temporada seguinte. Mas o Verão quente de 1980 e a guerra aberta entre o presidente Américo de Sá e Pinto da Costa provoca uma ruptura no futebol portista. Saem Pinto da Costa e Pedroto, seguem-se dois anos de poucas conquistas e, em Abril de 1982, Pinto da Costa é eleito pela primeira vez para o cargo que, 38 anos depois, ainda ocupa. Pedroto também regressa às Antas e, não tendo conquistado qualquer campeonato nas duas épocas finais no clube, deixou as bases de um ciclo conquistador que ainda não acabou.

Depois de Pedroto, houve mais dois treinadores repetentes, mas só um deles é que foi feliz nas duas vezes. Artur Jorge, o sucessor directo do “Zé do Boné” (de quem tinha sido adjunto no V. Guimarães), teve enorme sucesso nas suas primeiras três épocas (dois títulos de campeão e uma Taça dos Campeões Europeus) e, depois da pausa parisiense no Matra Racing, ainda regressou para mais um título de campeão em 1990 e uma Taça em 1991. Nos primeiro ano parisiense do “Rei” Artur, Tomislav Ivic tomou bem conta da loja, conquistando cinco títulos numa época (Taça Intercontinental, Supertaça Europeia, campeonato, taça e Supertaça). Quando regressou, em 1993, nem sequer chegou a fazer uma época completa, substituído em Janeiro de 1994 por um senhor do futebol mundial chamado Bobby Robson.

Foto

Nos últimos 40 anos, o Sporting poucas vezes repetiu treinadors, também porque poucos deles tiveram sucesso. Manuel José treinou os “leões” em duas ocasiões (1985-87 e 1989), mas não foi feliz em nenhuma delas. Octávio Machado pegou na equipa duas vezes, mas só ganhou uma Supertaça. O já falecido Fernando Mendes, capitão da única conquista europeia do Sporting (Taça das Taças de 1964), esteve sempre disponível para pegar na equipa em situações de emergência. Numa delas, em 1979-80, foi campeão depois de ter entrado à décima jornada. Não ficou para a época seguinte, mas viria a ser chamado mais duas vezes, em 1995-96, para substituir Carlos Queiroz, e em 2000-01, para ocupar o lugar que tinha sido de Augusto Inácio. Em nenhuma delas foi particularmente feliz.

Sugerir correcção